segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O SAPO E O PORCO – ESPINHO – RUBEM ALVES.


 

NOSSOS ESPELHOS SÃO OS OLHOS DOS OUTROS.

 

SOMENTE OS OUTROS PODEM DIZER QUE SOMOS BELO!

 

A FEIÚRA DA RAIVA NÃO AGÜENTA A LEVEZA DO RISO.

 

DEDICO ESTA COÔNICA AOS CASAIS QUE SE AMAM E SOFREM PORQUE BRIGAM MUITO.

 

A FONTE ESTAVA FELIZ. ELA ESTAVA AMANDO. TINHA UMA NAMORADA;- UMA MENINA. ELA VIRIA NAQUELE DIA. A FONTE ESTAVA ESPERANDO. A FONTE IA EXPLICAR AS RAZÕES DO SEU AMOR PELA MENINA. O AMOR NÃO TEM RAZÕES. MAS HAVIA CERTAS COISAS QUE A COMOVIAM...

O OLHAR DA MENINA; AQUELE SORRISO QUE DIZIA; QUE BOM QUE VOCÊ EXISTE! OS OLHOS FALAM SEM PALAVRAS, ACARICIAM SEM TOCAR. SUA VOZ ERA SEMPRE MANSA. COMO SE FOSSE UM ECO DA PRÓPRIA VOZ DAS FONTES, QUE FALAM MURMURANDO.

A MENINA SE DEBRUÇAVA, SE CURVAVA TODA, MERGULHAVA SEU ROSTO NA ÁGUA, E BEBIA-BEIJAVA AO MESMO TEMPO...A FONTE SE VIA REFLETIDA NOS OLHOS DA MENINA ( TAMBÉM ELES ERAM UMA FONTE) E FICAVA FELIZ;- ELA SE VIA BONITA.

NA FONTE MORAVA UMA RÃZINHA. RÃZINHA MOLECA, GOSTAVA DE MERGULHAR. A MENINA TAMBÉM ESTAVA MUITO FELIZ. IRIA BEBER DA FONTE QUE ELA TANTO AMAVA. A MENINA NÃO SABIA EXPLICAR AS RAZÕES DO SEU AMOR PELA FONTE. O AMOR NÃO TEM RAZÕES. MAS HAVIA CERTAS COISAS QUE A COMOVIAM...

A FIDELIDADE DA FONTE;- ELA ESTAVA SEMPRE LÁ, Á SUA ESPERA. SEU JEITO MANSO DE FALAR. SUA VOZ JAMAIS SE ALTERAVA, JAMAIS SE ENCRESPAVA. ERA SEMPRE UM MURMURAR MANSO E SEM PRESSA. E GOSTAVA DE VER SEU ROSTO REFLETIDO NA FONTE, QUANDO SE ABAIXAVA PARA BEBER ÁGUA. O ROSTO BONITO. ANTES ELA NÃO SABIA DISSO. PORQUE NÓS NÃO VEMOS A NÓS MESMOS. PRECISAMOS DE ESPELHOS. NOSSOS ESPELHOS SÃO DOS OUTROS. SOMENTE OS OUTROS PODEM DIZER QUE SOMOS BELOS. A BELEZA É UMA DÁDIVA DOS OLHOS DO OUTRO.

A FONTE TINHA A RÃZINHA. A MENINA TINHA UM COELHINHO BRANCO DE OLHOS VERMELHOS. LISO, MACIO, TÍMIDO. AH! COMO ERA TÍMIDO! ASSUSTAVA-SE Á TOA. IGUALZINHO Á MENINA. A MENINA DIZIA QUE O COELHINHO ERA A SUA ALMA. MAS DA FONTE O COELHINHO NÃO TINHA MEDO, PORQUE A FONTE NUNCA O ASSUSTAVA. VIVIA LÁ NO ALTO DE UMA ÁRVORE, UM TUCANO.

O TUCANO ERA UM PALHAÇO. RIA DE TUDO O QUE FOSSE ENGRAÇADO. QUANDO A RISADA DO TUCANO SE OUVIA NA FLORESTA, A BICHARADA TODA SABIA QUE ALGUM NÚMERO DE CIRCO ESTAVA EM ANDAMENTO...

A MENINA CHEGOU A FONTE. A FONTE MURMUROU PALAVRAS DE AMOR. A MENINA SE APROXIMOU PARA BEBER ÁGUA. AÍ, QUANDO SEU ROSTO SE APROXIMAVA DA ÁGUA, A RÃZINHA MOLECA RESOLVEU FAZER UMA BRINCADEIRA COM A MENINA;- MERGULHOU JUSTO NO LUGAR ONDE SUA BOCA IA TOCAR A ÁGUA.

             SPLASH!! A ÁGUA ESPIRROU. A MENINA E O COELHINHO FICARAM TODOS MOLHADOS. MENINA E COELHINHO RECUARAM ASSUSTADOS, ROSTOS AMEDRONTADOS!

            A FONTE SE ASSUSTOU TAMBÉM, COM A CARA DE SUSTO QUE A MENINA FEZ. ELA NUNCA A HAVIA VISTO DAQUELE JEITO. A PELE DA FONTE SE ENRUGOU.

            E A MENINA, ENTÃO, SE VIU FEIA, REFLETIDA ENRUGADA NO REFLEXO ENRUGADO DA FONTE.

            A MENINA SE ENRUGOU POR DENTRO;- FICOU COM RAIVA DA FONTE. ELA ESTAVA FEIA-ENRUGADA POR CAUSA DA FONTE. A RAIVA PROVOCA ESTRANHAS TRANSFORMAÇÕES;- A MADRASTA DA BRANCA DE NEVE, POR EXEMPLO, VIROU BRUXA QUANDO SE VIU FEIA REFLETIDA NO ESPELHO.

            O COELHINHO VIROU UM PORCO-ESPINHO RAIVOSO. O PORCO-ESPINHO SACUDIU-SE TODO, PARA ENXUGAR-SE DA ÁGUA. SEUS ESPINHOS SE SOLTARAM E CAÍRAM NA RÃZINHA. A RÃ SENTIU A DOR DOS ESPINHOS. E FICOU COM RAIVA DA MENINA. AÍ FOI A VEZ DE SE TRANSFORMAR. A RÃZINHA VIROU UM SAPO ENORME, FEIO, DE LÍNGUA VENENOSA. QUE MAGIA MAIS TENEBROSA!

            A FONTE E A MENINA, APAIXONADOS, TRANSFORMADOS AGORA EM PORCO-ESPINHO E SAPO VENENOSO, ENRAIVECIDOS. FOI ENTÃO QUE UMA GARGALHADA ENORME ECOOU PELA FLORESTA;-

            QUIÁ, QUIÁ, QUIÁ...

            ERA O TUCANO. RIA TANTO QUE QUASE CAIU DO GALHO.- QUE NÚMERO MAIS CÔMICO! QUE GRANDES ARTISTAS VOCÊS SÃO, E EU NÃO SABIA! – DISSE ELE. SERÁ ISSO UMA SESSÃO DE PSICODRAMA OU ENSAIO PARA ALGUM NÚMERO DE CIRCO? JÁ VI MÁGICO TIRAR COELHO DE CARTOLA. MAS VOCÊ, MENINA, É MELHOR QUE QUALQUER MÁGICO;- TIROU UM PORCO-ESPINHO ESPINHUDO DE DENTRO DE UM COELHO BRANCO, PELUDO. E VOCÊ, FONTE, DE UMA RÃZINHA DO TAMANHO DE UM OVO DE PATO TIROU UM SAPO HORRENDO, MAIOR QUE UM SAPATO.

            DITAS ESSAS PALAVRAS E SEM PARAR DE GARGALHAR, O TUCANO SAIU VOANDO, ESPALHANDO AOS QUATRO VENTOS A NOTÍCIA DO ESPETÁCULO DE CIRCO QUE ACABARA DE PRESENCIAR. A FONTE E A MENINA, AO SE VEREM ASSIM COM A CARA DE SAPO E DE PORCO-ESPINHO, CAÍRAM NA RIZADA.

 RIRAM ATÉ CHORAR DA FEIÚRA RAIVOSA. E Á MEDIDA QUE RIAM DE SI MESMOS, A MÁGICA AO CONTRÁRIO ACONTECEU;- O PORCO-ESPINHO VOLTOU A SER COELHINHO, E O SAPO VOLTOU A SER RÃZINHA.

O RISO É SANTO REMÉDIO PARA CURAR AS DOENÇAS DA RAIVA.

            A FONTE E A MENINA SE ABRAÇARAM, SABENDO QUE NENHUM DOS DOIS TINHA RAZÃO. ERAM DOIS TOLOS... E, ABRAÇADOS, VOLTARAM A SE AMAR COMO SEMPRE TINHAM SE AMADO.

            MAS AGORA SABIAM QUE DENTRO DO COELHO MORAVA UM PORCO-ESPINHO E DENTRO DA RÃZINHA UM SAPO HORROROSO.

            A QUALQUER MOMENTO ERA POSSÍVEL QUE APARECESSEM DE NOVO. MAS JÁ NÃO TINHAM MEDO.

            CONHECIAM O ANTÍDOTO; A FEIÚRA DA RAIVA NÃO AGÜENTA A LEVEZA DO RISO. TODA A VEZ QUE O SAPO HORROROSO OU O PORCO-ESPINHO APARECIAM, ELES SE LEMBRAVAM DA RISADA DO TUCANO.

            RIAM TAMBÉM, E DE NOVO VOLTAVAM A SE AMAR.  RUBEM ALVES.

 

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                                               OREMOS

 

SENHOR, MEU DEUS, HÁ MUITO TEMPO ME OFERECEIS TODAS AS OPORTUNIDADES DE CONVERSÃO E DE VIDA NOVA. AGRADEÇO-VOS TANTA BONDADE E TANTA PACIÊNCIA COMIGO.

            RECONHEÇO QUE NÃO TENHO CORRESPONDIDO A VOSSOS FAVORES.

            PERDOAI-ME, TENDE COMPAIXÃO DE MIM, COM VOSSA AJUDA, DE AGORA EM DIANTE, EU VOS QUERO AMAR, COLOCANDO-VOS EM PRIMEIRO LUGAR EM MINHA VIDA.

            CUIDAI DE MIM . AMÉM.

 

PADRE FLÁVIO CAVALCA DE CASTRO

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