FOI
UM INCIDENTE DE CABEÇA PARA BAIXO QUE FICOU FLUTUANDO EM MINHA MEMÓRIA QUANDO
COMECEI A ESCREVER ESTA HISTÓRIA. A LEMBRANÇA ERA DE UMA NOITE DE NATAL.
PARECIA DE CABEÇA PARA BAIXO PORQUE NINGUÉM HAVIA PASSADO PELA PORTA AZUL
NAQUELA NOITE NO HARLEM.
TINHA
ACABADO DE FACHÁ-LA ATRÁS DO NOSSO ÚLTIMO BANDO. TÍNHAMOS MUITO O QUE FAZER ANTES
DA MISSA DA MEIA-NOITE. FOI SEGURAMENTE O TRIO MAIS ESTRANHO QUE JÁ ENCONTREI,
O DAQUELA NOITE. NÃO PASSARAM PELA PORTA AZUL MAS,- NÃO ME PERGUNTEM COMO, A
PORTA ESTAVA ENVOLVIDA NISTO.
FOI
UM ENCONTRO PERFEITAMENTE NATURAL, BADA DE MILAGROSO. E FOI UM ENCONTRO BOM,
QUE FEZ A MISSA DE NATAL UM POUCO MAIS JUBILOSA E AS MEDITAÇÕES QUE SE SEGUIRAM
UM POUCO MAIS PROFUNDAS.
QUANDO
JÁ ESTAVA SAINDO E TINHA ME VIRADO DEPOIS DE TRANCAR A PORTA AZUL (QUE TINHA
TIDO PROBLEMAS NAQUELA NOITE, CONFESSO – ACHO QUE A CHAVE TINHA ENROSCADO OU
COISA PARECIDA ) FUI CONFRONTADA COM UM NEGRO MUITO BONITO DE MEIA IDADE E UMA
MULHER PEQUENA E MAIS JOVEM. EVIDENTEMENTE ERA SUA ESPOSA E ELA SEGURAVA UMA
CRIANÇA EM SEUS BRAÇOS. NÃO PODIA VER O ROSTO DO BEBÊ.
ESTAVA
TODO EMBRULHADO CONTRA O VENTO ÚMIDO E FORTE QUE SOPRAVA EM NOVA YORK.
EDUCADAMENTE
O HOMEM LEVANTOU SEU CHAPÉU E COM O DOCE SOTAQUE DO SUL, DISSE-ME QUE ELE E SUA
ESPOSA ESTAVAM PERDIDOS NA CIDADE. TINHAM ACABADO DE SAIR DO TREM. ELE ERA
CARPINTEIRO, ESPERANDO ENCONTRAR UM EMPREGO MELHOR DO QUE O DA PEQUENA VILA DE
ONDE VIERAM. MAS, COM UMA COISA E OUTRA, TINHAM-SE PERDIDO. NÃO TINHAM
DINHEIRO, QUER DIZER, NÃO O SUFICIENTE PARA UM PERNOITE. TALVEZ EU PUDESSE
DIZER-LHES ONDE IR, O QUE FAZER E A QUEM PODERIAM PEDIR AJUDA.
DITO
ISSO, FICOU ALIVIADO, EDUCADO E SILENCIOSAMENTE ESPERANDO POR MINHA RESPOSTA.
SUA ESPOSA, QUE NÃO HAVIA DITO UMA PALAVRA, SOMENTE SORRIU UMA OU DUAS VEZES
PARA MIM. ELA ESTAVA TÃO CONFIANTE E TRANQUILA QUANTO ELE, CERTOS DE QUE EU ERA
A PESSOA CERTA PARA AJUDÁ-LOS.
DIANTE
DE MINHA VISÃO APARECEU UM TELEFONE. QUASE VOLTEI E ABRI A PORTA AZUL PARA
TENTAR CONTATAR ALGUMA AGÊNCIA SOCIAL QUE PUDESSE ATENDÊ-LOS EM SUAS
NECESSIDADES. ENTÃO OLHEI PARA MEU RELÓGIO. ERAM QUASE ONZE HORAS E VÉSPERA DE
NATAL! QUEM PODERIA ENCONTRAR A ESTA HORA? E ONDE? E SE ENCONTRASSE, ESTA POBRE
FAMÍLIA TERIA QUE ENFRENTAR CAMINHOS ESTRANHOS. PODERIA, NATURALMENTE,
MANDÁ-LOS DE TÁXI. TINHA UM DINHEIRO EXTRA EM MINHA BOLSA – MILAGRE DOS
MILAGRE. MAS O ABRIGO DE FAMÍLIAS DE NOVA YORK SEPARAVA ÁS FAMÍLIAS AS VEZES,
POR FALTA DE LUGAR.
FALTA
DE LUGAR! NOITE DE NATAL! HOMEM, MULHER , CRIANÇA! TUDO DE REPENTE FICOU CLARO
PARA MIM. NATURALMENTE, SABIA QUE ERA SÓ UMA COINCIDÊNCIA. BOM, DE CERTA FORMA.
MAS TANTAS PESSOAS VINHAM NA CASA DA AMIZADE PARA ESTE TIPO DE AJUDA OU
INFORMAÇÃO. NÃO, NÃO ERA HORA DE MANDAR TAL FAMÍLIA PARA LUGAR ALGUM. ERA HORA
DE OFERECER-LHES HOSPITALIDADE PESSOAL, MESMO QUE POR NENHUMA OUTRA RAZÃO QUE
EXPIAR A HOSPITALIDADE QUE NÃO FOI DADA HÁ MAIS DE DOIS MIL ANOS ATRÁS.
NATURALMENTE!
PORQUE NÃO HAVIA PENSADO NISTO ANTES! HAVIA O QUE O PESSOAL DA CASA DA AMIZADE
CHAMAVA DE EREMITÉRIO, QUER DIZER, MEU QUARTO. ERA TANTAS COISAS EM UMA. TINHA
UMA ESCRIVANINHA, UMA CAMA, UM FOGÃO COMPLETO COM FORNO, UMA ESPÉCIE DE GELADEIRA
DOADA PELA ADMINISTRAÇÃO;- ÁS VEZES ATÉ FUNCIONAVA. O QUARTO TINHA UMA PIA E
UMA LAVANDERIA – UMA BANHEIRA COMPLETA. SIM, ERA UM LUGAR ACONCHEGANTE,
ESPECIALMENTE Á NOITE. GANHEI UMA ÁRVORE DE NATAL ENFEITADA, DE MAIS OU MENOS
10 CENTÍMETROS. ESTAVA LONGE DOS PINHEIROS IMPONENTES, NATIVOS DA RÚSSIA, TÃO
DIGNOS EM SUA BELEZA MAJESTOSA.
AINDA
ASSIM, A PEQUENA ÁRVORE ERA BONITA, MUITO BONITA. COLOQUEI EMBAIXO DELA UMA
MINIATURA DE MANJEDOURA. QUANDO VOLTASSE DA MISSA, PRETENDIA COLOCAR O MENINO
LÁ. SIM, O QUARTO ERA LIMPINHO E MUITO, MUITO ACONCHEGANTE. PORQUE NÃO CONVIDAR
O CASAL PARA PASSAR A NOITE LÁ? AMANHÃ PODERIA CONTATAR AS AGÊNCIAS.
PENSAMENTO
MAIS RÁPIDO NÃO PODERIA TER OCORRIDO. MEU CASAL ESTRANHO ESTAVA AINDA EM
SILÊNCIO, CORTESMENTE ESPERANDO POR MINHA RESPOSTA QUE CERTAMENTE PARECIA
DEMORAR. MAS NÃO MOSTRAVAM SINAIS DE IMPACIÊNCIA.
DEVAGAR,
E POR ALGUMA RAZÃO INEXPLICÁVEL, TIMIDAMENTE CONVIDEI-OS PARA ENTRAR NO
EREMITÉRIO, PEDINDO DESCULPAS PELA SIMPLICIDADE DO LUGAR. A MULHER
ENDIREITOU-SE E PARECIA MAIS ALTA, QUANDO APERTAVA A CRIANÇA MAIS PERTO DE SI.
O HOMEM AGRADECEU E COMEÇARAM A ME SEGUIR.
ANDAMOS
OS TRÊS LONGOS BLOCOS QUE SEPARAM A PORTA AZUL DE MEU QUARTO. NINGUÉM DISSE UMA
PALAVRA. AINDAASSIM, O SILÊNCIO ERA COMPANHEIRO.
UMA
VEZ NO QUARTO, OS DEIXEI O MAIS CONFORTÁVEL POSSÍVEL. O BEBÊ, FINALMENTE FORA
DE SEUS EMBRULHOS, ERA AMÁVEL. NÃO O OUVI CHORAR. O HOMEM DISSE QUE ERA MENINO,
O PRIMOGÊNITO. FIZ CAFÉ, FRITEI ALGUNS OVOS, ARRUMEI A MESA E ENTÃO DISSE A
ELES QUE VIRIA VÊ-LOS DEPOIS DA MISSA.
FOI
UMA DAS MISSAS MAIS BONITAS DE QUE JÁ PARTICIPEI. O PENSAMENTO DE MEUS TRÊS
PEREGRINOS ABRIGADOS NO QUARTO ACONCHEGANTE PROVAVELMENTE AJUDOU. HOSPITALIDADE
PESSOAL A ESTRANHOS, PARA CRISTO, AQUECE QUEM A DÁ TANTO QUANTO UMA BÊNÇÃO
PROPRIAMENTE DITA.
TERMINADA
A MISSA, VOLTEI LOGO PARA MEU QUARTO. PARA MEU ESPANTO, ENCONTREI A PORTA DA
FRENTE ABERTA! ISTO NUNCA ACONTECE NO HARLEM ONDE USAMOS VÁRIAS TRANCAS, POR
SEGURANÇA. ( É ASSIM EM TODO LUGAR ONDE HÁ TENSÃO, SEGREGAÇÃO E POBREZA ).
EMPURREI
A PORTA ABERTA. A SALA ESTAVA VAZIA. AS LOUÇAS HAVIAM SIDO LAVADAS E COLOCADAS
EM SEUS DEVIDOS LUGARES. NENHUM SINAL DE OCUPAÇÃO.
O
MENINO QUE PRETENDIA COLOCAR NA PEQUENINA MANJEDOURA EMBAIXO DA ÁRVORE JÁ
ESTAVA LÁ E UMA VELA ESTAVA ACESSA NA MINHA JANELA!.
AS CRIATURAS SÃO VESTÍGIOS DAS PEGADAS DE
DEUS, PELAS QUAIS SE RECONHECE SUA
GRANDEZA, PODER E SABEDORIA. SÃO JOÃO DA CRUZ.
OS GRANDES CORAÇÕES NUNCA ESTÃO
TOTALMENTE FELIZES;- FALTA-LHES A FELICIDADE DOS OUTROS. JEAN DE LA BRUYÉRE.
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