segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O PURGATÓRIO;- JOSÉ LUIZ MARINHO VILLAC.



            Pergunta;- tendo um amigo meu, que é pastor protestante, em conversa sobre outros assuntos, afirmado não existir o purgatório como afirma nossa igreja católica, desejaria saber em que o magistério se baseia para essa afirmação, a fim de que eu possa contestar e esclarecer meu amigo sobre esse ponto.
            Resposta;- a pergunta é muito interessante, porque nos dá ensejo para tratar de dois pontos de importância;- a- o uso que a IGREJA faz da SAGRADA ESCITURA em sua elaboração teológica;- e b- a doutrina protestante da justificação, em contraste com a doutrina católica da redenção. A DOUTRINA DO CATECISMO;- quando – ao nos prepararmos para a primeira comunhão, aprendemos as noções básicas de catecismo, a doutrina católica nos é apresentada como um conjunto coerente de verdades consagradas pela tradição e já estabelecidas pelo magistério da igreja.
            Nem poderia ser de outra forma, como aliás acontece com qualquer outra matéria, mesmo não diretamente religiosa. Assim, se formos aprender o funcionamento do sistema solar, por exemplo, já nos ensinarão os nomes de todos os 9 planetas, de mercúrio e plutão. É claro, que, num curso mais avançado de astronomia, nos explicarão quando e como esses planetas foram descobertos, e numerosos outros aspectos. O mesmo acontece com a doutrina católica. Parte dela já foi revelada no A.T. depois JESUS CRISTO a explicou, completou e aperfeiçoou. Ele nos deixou a doutrina, ensinando-a aos apóstolos oralmente e pelos seus atos e exemplos. Os apóstolos, por sua vez, a transmitiram também oralmente, e já um tanto por escrito, aos primeiros fiéis.
             Alguns destes a saber, SÃO MARCOS, SÃO LUCAS – também puseram por escrito as pregações dos apóstolos, resultando de todo esse trabalho os 4 evangelhos, os atos dos apóstolos – as epístolas e o livro do apocalipse, que constituem o N. T. Porém, nem tudo que JESUS CRISTO ensinou ficou escrito. Muitas verdades continuaram a ser transmitidas apenas oralmente, e é isto que constitui a chamada tradição. Mais tarde, grande parte dessa tradição oral foi escrita pelos padres da igreja e outros autores sacros. Assim como os astrônomos e astrofísicos continuam estudando o universo que aí está, e cada vez nele descobrem novas maravilhas, assim também os teólogos vão sempre aprofundando o conhecimento da doutrina revelada por NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.
            O LIVRO DOS MACABEUS E O PURGATÓRIO;- não está direta e explicitamente mencionada na bíblia. Então, como sabemos nós que ele existe? Porque sua existência se deduz claramente de certas passagens das SAGRADAS ESCRITURAS e vem confirmada pela tradição. No segundo livro dos MACABEUS se lê;- E, TENDO FEITO UMA COLETA, JUDAS MACABEU MANDOU DOZE MIL DRACMAS DE PRATA A JERUSALÉM, PARA SEREM OFERECIDOS EM SACRIFÍCIO PELOS PECADOS DOS MORTOS...é pois um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados. Por onde se vê que essas almas ainda não tinham sido inteiramente purificadas de seus pecados, e portanto não podiam entrar no CÉU, necessitando de orações e sacrifícios dos que permaneceram na terra, para que pudessem fazê-lo – cumprida integralmente a expiação por suas antigas culpas.
            Das almas que partiram deste mundo e se encontram nesse estado de purgação se diz que estão no PURGÁTORIO – é verdade de fé que o purgatório é um estado em que a alma separada do corpo é purificada por verdadeiro fogo. Ademais, é doutrina comum entre os teólogos que o purgatório é também um lugar determinado.
            OS PROTESTANTES REJEITAM PARTES DA BÍBLIA;-  a conceituada enciclopédia católica assim define o purgatório;- (estado pós terreno, que durará até o juízo final, no qual as almas daqueles que morreram na GRAÇA DE DEUS, mas com imperfeições ou pecados veniais ou penas temporais a pagar pelos pecados mortais perdoados, expiam e se purificam antes de entrar no CÉU.  Quando na igreja se computavam as indulgências parciais com base em dias – por exemplo;- uma indulgencia de 40 dias – isso comumente não significava que quem ganhasse essa indulgencia ficaria 40 dias no purgatório. Significava, isto sim, que lhe era remitida uma pena equivalente a um pecado ao qual, na igreja primitiva, lhe seria imposta uma penitencia de 40 dias. A igreja, portanto, elabora a sua doutrina sobre o purgatório com base no referido texto do segundo livro dos MACABEUS, corroborando-a ainda com outras passagens da escritura – tanto no antigo quanto no novo testamento – QUE POR BREVIDADE OMITIMOS.
            Infelizmente devemos alertar o nosso consulente que, com isto, ele provavelmente não vai convencer seu amigo protestante, pela simples razão de que os protestantes erroneamente negam a canonicidade dos livros dos MACABEUS ! isto é,  rejeitam estes dois livros alegando que não pertencem a SAGRADA ESCRITURA. Então a discussão se desloca para outro tema, que é a discrepância entre a bíblia católica e a protestante, assunto por demais vasto e complexo para ser tratado aqui. Porém, há outro aspecto que talvez dê margem a elucidação da questão. A DOUTRINA PROTESTANTE DA JUSTIFICAÇÃO;-  negam a existência do purgatório também porque, pela falsa concepção que formaram da justificação do pecador, essa purificação das almas depois da morte não é necessária. Segundo eles, JESUS CRISTO, morrendo na CRUZ, já pagou por todos os nossos pecados, e não é preciso que cada um de nós sofra por si mesmo nem pelos outros. Chegam ao absurdo de dizer que até podemos pecar á vontade, porque todos os nossos pecados já estão pagos, de antemão, por JESUS CRISTO. E, PARA ISSO, BASTARIA TER FÉ. É ASSIM, QUE Lutero BUSCA INTERESSEIRAMENTE A CÉLEBRE PASSAGEM DO EVANGELHO DE SÃO MARCOS;- QUEM CRER E FOR BATIZADO SERÁ SALVO;- O QUE, PORÉM, NÃO CRER SERÁ CONDENADO.
            Segundo a doutrina verdadeira, que nos é ensinada pela igreja católica , o pecado comporta dois aspectos;- a culpa e a pena. Isto é, pelo pecado ofendemos a DEUS e nos tornamos culpados diante DELE, merecendo consequentemente um castigo ( uma punição ou pena). Quando recebemos a absolvição de nossos pecados pelo SACRAMENTO DA CONFISSÃO – pelo poder de JESUS CRISTO a nossa culpa é perdoada, mas resta cumprir uma pena pelo pecado cometido, a qual é satisfeita só em parte pela penitência que o sacerdote nos impõe. O que falta é completado por nossos sacrifícios voluntários unidos aos méritos de CRISTO, pela aceitação amorosa dos infortúnios que DEUS permite que caiam sobre nós e pelas indulgencias que lucramos. Se a soma de tudo isso ainda resultar num saldo negativo em relação ao montante de nossos pecados, pagaremos o restante no purgatório.
            A doutrina protestante é absurda. Segundo ela, os méritos de CRISTO não nos limpam verdadeiramente dos pecados. São apenas um véu que se aplica sobre os nossos pecados, camuflando-os diante de DEUS. SOB ESSE VÉU, CONTINUAMOS OS MESMOS PECADORES IMUNDOS. Por isso – dizia LUTERO, o homem é sempre, ao mesmo tempo – justo e pecador. Porém, como estamos cobertos pelo manto redentor de CRISTO, podemos comparecer diante de DEUS no CÉU, sem necessidade de uma penitencia pessoal que, para LUTERO, é inteiramente vã e supérflua. De onde não haver nenhuma necessidade de passarmos antes pelo purgatório, para nos purificarmos de nossos pecados. Em outras palavras, entraremos sujos mesmo no CÉU, apenas recobertos pelo manto puríssimo de CRISTO.
            Isso está claramente formulado por LUTERO em suas obras. A doutrina é tão sesquipedal, e de tal modo induz as pessoas á prática do pecado, que, quem sabe, seu amigo verá o absurdo dela! Convém acrescentar que, no purgatório, o pecador arrependido experimenta ao mesmo tempo dor elas ofensas feitas a DEUS nesta terra e alegria, tanto pelo perdão obtido quanto por conhecer que finalmente está reparando os ultrajes feitos contra DEUS, e garantir sua entrada no CÉU.

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