domingo, 4 de novembro de 2012

A ESPERANÇA. J. COMBLIN.


A ESPERANÇA. J. COMBLIN.

 

O reino de Deus se vive na esperança. Se o reino de Deus é o aspecto objetivo, a esperança é o aspecto subjetivo da mesma realidade, a peregrinação que é a existência humana, esta deve ser a existência de esperança.

Isto quer dizer que a dimensão do futuro é fundamental na concepção cristã da existência ;- em nenhuma religião, em nenhuma filosofia, o futuro impregna de tal modo o presente.

A mensagem da esperança está exatamente no centro da mensagem de Cristo aos homens;- pois esta mensagem está enunciada nas bem-aventuranças, e todos os autores concordam em afirmar que as bem-aventuranças contêm a síntese e a essência de tudo o que Jesus quis dizer aos homens sobre eles mesmos.

As bem-aventuranças são a expressão mais completa e mais radical da esperança. Para os ricos, a esperança não tem significado, eles têm o presente e vivem do presente, querem gozar no momento presente e dispõem dos meios para fazê-lo;- são eles os que riem e estão saciados, seus desejos são satisfeitos;- se pensam no futuro, é no sentido de aumentar e prolongar suas satisfação presente. Eles se dirigem para o futuro pelo desejo.

Querem possuir o futuro como possuem o presente, se surgem alguns obstáculos, os ricos querem destruí-los, tanto os obstáculos que vêm das pessoas como os que vêm da matéria. Tentam dominar o futuro com sua vontade, procuram conquistar uma propriedade que lhes garanta o futuro;- submetem-se aos outros e aos objetivos materiais para ter a segurança de continuar gozando no futuro.

Só vêem o futuro como algo que é preciso controlar e dominar.

O Espírito Santo é o autor da esperança, é quem torna possível este impossível. A esperança não consiste em esperar no sentido vulgar da palavra;- esperar que algo aconteça;- a esperança consiste em colocar-se numa disposição e atitude de acolhimento e de receptividade, em orientar-se para o que vem de fora.

Pois ela está baseada numa convicção;- a plenitude do ser humano, sua felicidade e plena realização não residem no próprio homem, nem nos bens que estão a seu alcance, mas num dom que vem dos outros e do OUTRO.

Não podemos fazer com que o outro nos ame! Não podemos construir nenhum amor, nem podemos fazer com que Deus se interesse por nós,(DEUS NUNCA DESISTE DE NÓS, SEU AMOR NÃO TEM TAMANHO), tudo é um dom gratuito. O reino de Deus é dom gratuito de Deus e nada podemos fazer para que venha;- SÓ PODEMOS ESPERÁ-LO.

Pois se não o esperamos, não o podemos receber e nem sequer reconhecer. O QUE HÁ DE MAIS HUMANO NÃO É O QUE SE CONSTRÓI, MAS O QUE SE DÁ.

A esperança não é passiva, ela se aprofunda a cada etapa;- ao acolher os dons enviados pelo Espírito com a disposição de abertura do Espírito, ao receber e viver cada dom, o ser humano aprofunda a esperança.

Pois todo dom é um laço novo, uma união nova com novos seres humanos, uma nova fraternidade;- ao viver cada fraternidade e cada solidariedade em seu tempo, o ser humano se habilita a receber o dom final. Porque o futuro reino de Deus se torna presente nos sinais que o antecipam. O viver os sinais em todo o seu valor é a esperança. Os sinais estão em todas as formas de atividade humana;- no trabalho, na associação em todos os níveis, em todas as expressões de comunicação e comunhão entre os seres humanos.

Viver os sinais como espera e preparação do dom final é a esperança, viver segundo o modo da esperança, não é um modo passivo, mas altamente ativo de viver. No entanto, é preciso estar consciente de que a atividade não é o ponto central;- A ATIVIDADE SE SUBORDINA RADICALMENTE A UMA RECEPTIVIDADE. O agir é uma resposta a um dom de Deus de cada momento.

Assim, a atividade segue os passos indicados pelos dons de Deus e constitui uma pedagogia da esperança.

Existem atitudes humanas que excluem a esperança;- tal é a atitude dos que confiam em seu poder e crêem que podem construir seu futuro. Tal é também a atitude dos que nada podem e que não querem esperar porque temem desilusões.

Existem atitudes humanas que deformam a esperança. Alguns acham que o fim do mundo está próximo, e, portanto, tudo o que acontece neste mundo já não tem importância. Acham que é preciso esperar passivamente o fim. Desde o começo da Igreja houve Cristãos que assim pensaram.

Outros acreditam que, para garantir a salvação no futuro reino de Deus, o essencial é acumular certos direitos e garantias. Crêem ser possível comprar, de certa maneira, o acesso ao reino dos céus mediante orações, ritos, ofertas, obras de piedade ou caridade;- para eles a vida presente não vale em si mesma a não ser pelas oportunidades que oferece de se poder comprar o futuro. Assim viviam os fariseus. Tais pessoas não vivem a esperança, mas crêem que o futuro do reino de Deus pode ser nossa propriedade desde agora, que se pode comprar um título para o futuro.

Outros põem toda a sua esperança num futuro terreno, e, como os antigos judeus, pensam que Deus estabelecerá seu reino aqui na terra. Esquecem que esta vida mortal é uma peregrinação sempre inacabada, e que o presente é algo que passa;- se o reino estivesse num futuro terreno, todas as gerações anteriores ficariam excluídas dele. 

 Em nome de um paraíso terrestre futuro, muitas vezes os imperadores e dominadores deste mundo exigiram de sua geração trabalhos e esforços gigantescos;- prometiam a felicidade á geração futura, e, com isso, pediam á geração presente todos os sacrifícios;- mas por que uma geração teria que ser sacrificada em favor da seguinte? Se a esperança estivesse neste mundo, ela só levaria a uma alienação;- nós passamos e teríamos de constatar que o reino de Deus se prepara para existir sem nós.

Teríamos de perder nossa substância em favor de outros, que são melhores do que nós, nem superiores a nós.

A verdadeira esperança, estabelece uma justa relação entre o mundo presente e o mundo futuro. O futuro não se constrói aqui, mas se prepara aqui. Pois o reino de Deus está nos próprios homens abertos aos outros e a Deus, e isto se prepara na esperança.

Comentário;- sem o Espírito não há esperança;- o Espírito nos faz ver e viver o presente como etapa de passagem para o futuro. O Espírito nos faz ver a falsidade de toda riqueza que oculta o futuro, que fecha a porta ao dom pelo fato de reduzir tudo á propriedade.

O Espírito nos faz reconhecer os sinais do dom de Deus e do próximo, faz-nos viver desses dons e abre-nos para os dons futuros.

O Espírito infunde que será para eles a felicidade que por si mesmos não esperavam

A esperança corresponde ás promessas de Deus. Desde o começo Deus promete. Há homens que não prestam atenção ás promessas e outros que vivem das promessas. O antigo testamento é, em sua totalidade, uma longa história de promessas.

E no Novo Jesus se vincula ás promessas do passado, renovando-as e confirmando-as, ao mostrar em si mesmo um último e definitivo sinal da verdade das promessas. 

DIVINO ESPÍRITO SANTO, DESCEI SOBRE NÓS.

            A nós descei, divina luz, em nossas almas acendei, o amor, o amor de Jesus.

O amor , o amor de Jesus.

                                   Sem vós, Espírito divino, cegos, só podemos errar, e do mais triste desatino,

                                   No mais profundo abismo, sem fim, sem fim penar.

O negro inferno nos faz atroz guerra,  contra nós arma o mundo sedutor,

                                   Tudo é, para nós, perigo nesta terra.

Sois vós, sois vós, nosso libertador.           AMEM.

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