quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

HOMENS DE FÉ; - CARVAJAL.



            Fé em Cristo. Com Ele – podemos tudo;- sem Ele, somos incapazes de dar um passo.
            Quando a fé se torna pequena, as dificuldades agigantam-se.
            Jesus sempre ajuda.
Logo depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, o próprio Senhor despediu a multidão e ordenou aos seus discípulos que embarcassem. Já devia ter caído o sol. Jesus, depois daquele dia de trabalho, de solicitude pelos que o tinham seguido, sentiu uma imensa necessidade de orar. Subiu a um monte vizinho e ali permaneceu sozinho, noite adentro, em diálogo com seu Pai do céu. Do alto do monte, Jesus vê os Apóstolos já longe da margem, e percebe o momento em que a barca, batida pelas ondas porque o vento era contrário, passou a estar em perigo. Pode divisar a pobre embarcação no meio do lago, pois era plenilúnio e a Páscoa já próxima. Por volta da quarta vigília da noite, cerca de três horas da madrugada – antes de o dia despontar, foi ter com eles caminhando sobre ás águas.
            Os discípulos, ao verem a figura nebulosa que se aproximava deles pelo mar, tiveram medo;- é um fantasma, disseram. E começaram a gritar. Mas Cristo deu-se a conhecer imediatamente;- tende confiança, sou eu, não temais. É a atitude com que Cristo se apresenta sempre na vida do cristão;- dando alento e serenidade. Pedro ganha confiança e, levado pelo seu amor, que o faz desejar estar antes com o Mestre, faz-lhe um pedido inesperado;- Senhor, se és tu, manda-me ir até onde estás por sobre as águas. A audácia do amor não tem limites. E a condescendência de Jesus é inesgotável. E Ele disse-lhe; Vem. Pedro , descendo da barca, começou a andar sobre as águas em direção a Jesus.
            Foram momentos impressionantes para todos;- Pedro trocou a segurança da barca pela da palavra do Senhor. Não ficou aferrado ás tábuas da embarcação, mas dirigiu-se para onde Jesus estava, a uns poucos metros dos seus discípulos, que contemplavam atônitos o Apóstolo por cima das águas embravecidas, Pedro avança sobre as ondas. Sustentam-no a fé e a confiança no seu Mestre;- só isso.
             Pouco importam o ambiente, as dificuldades que rodeiam a nossa vida, se sabemos avançar cheios de fé e confiança ao encontro de Jesus que nos espera;- pouco importa que as ondas sejam muito altas ou o vento forte;- pouco importa que não seja do natural do homem caminhar sobre ás águas. Se olhamos para Jesus, tudo nos é possível;- e esse olhar para Ele é a virtude da piedade3. Se pela oração e pelos sacramentos nos mantemos unidos a Jesus, caminharemos com firmeza. Deixar de olhar para Cristo é naufragar, é incapacitar-se para dar um passo, mesmo em terra firme.
            A fé, inicialmente grande, tornou-se pequena depois, Pedro tomou consciência das ondas, dos ventos, de como era impossível para o homem caminhar sobre as águas;- preocupou-se com as dificuldades e esqueceu-se da única coisa que o mantinha na superfície;- a palavra do Senhor. Perante os obstáculos, de que agora tomava consciência, a sua fé diminuiu;- mas o milagre estava ligado a uma plena confiança em Cristo. Deus pede as vezes (aparentes impossíveis) – que se tornam realidade quando nos conduzimos com fé, de olhos postos no Senhor. Certa vez, o fundador do Opus Dei, Mons. Josemaría Escrivá, dizia a uma filha sua que partia para outro país onde encontraria as lógicas dificuldades próprias dos começos de um trabalho apostólico;- quando te peço uma coisa, filha, não me digas que é impossível, porque já o sei. Mas desde que comecei a Obra, o Senhor pediu-me muitos impossíveis... e foram saindo! Trabalhos apostólicos em muitos países, multidões de simples leigos, de todas as condições sociais, que se dispuseram a santificar-se no seu lugar de trabalho, santificando esse mesmo trabalho e santificando os outros através desse trabalho. Dizia-lhes Mons. Escrivá de mil formas diferentes;- São precisos homens de fé, renovar-se-ão os prodígios que lemos na Sagrada Escritura... Sempre foi assim na história da Igreja.
            É Deus que nos mantém na superfície e nos torna eficazes no meio de aparentes impossíveis, de um ambiente que não raras vezes é contrário ao ideal cristão. É Ele quem faz que caminhemos sobre as águas, e a condição é sempre a mesma;- olhar para Cristo e não deter-se excessivamente a considerar obstáculos. São João Crisóstomo, ao comentar este episódio do lago, sublinha que Jesus levou Pedro a saber por experiência própria que toda a sua fortaleza procedia Dele, ao passo que de si mesmo só podia esperar fraqueza e miséria;- e acrescenta;- Quando falta a nossa cooperação, cessa também a ajuda de Deus. no momento em que Pedro começou a temer e a duvidar, começou também a afundar-se.
            Quando a fé se torna pequena, as dificuldades agigantam-se;- A fé viva depende da capacidade que eu tenha de responder afirmativamente a esse Deus que me chama e quer tratar-me e ser meu amigo, a grande companhia da minha vida. Portanto, se eu lhe digo Sim, aqui estou, se passo a viver ao seu lado, robusteço a minha fé, porque a minha fé alicerça-se em Deus. pelo contrário, se me distancio de Deus, se o esqueço, se o empurro para a periferia da minha vida, e esta submerge naquilo que é puramente material e humano;- se me deixo arrastar pelas evidências imediatas e Deus se desvanece da minha alma, como posso ter uma fé viva? Se não procuro o trato íntimo com Cristo, o que é que resta da minha fé? Por isso, temos de concluir que, em última instância, todos os obstáculos á vida de fé se reduzem na sua gênese a um afastamento de Deus, a um separar-se de Deus, a um deixar de conviver com Ele num trato face a face.
            Pedro teria continuado a caminhar firmemente sobre as águas e teria chegado até o Senhor se não tivesse afastado Dele o seu olhar confiante. Todas as tempestades juntas, as de dentro da alma e as do ambiente, nada podem enquanto estivermos bem ancorados na fé e na oração. A nossa fé nunca deve fraquejar, mesmo que as dificuldades sejam enormes e a sua violência pareça esmagar-nos. Que importa que tenhas contra ti o mundo inteiro, com todos os seus poderes? Tu...para a frente!
            - Repete as palavras do salmo;- O senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? Ainda que me veja cercado de inimigos, não fraquejará o meu coração. E descendo da barca, Pedro caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. vendo, porém, que o vento era forte, temeu e, começando a afundar-se, gritou;- Senhor – salva-me!!! No mesmo instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe;- homem de pouca fé, porque duvidaste? E, mal subiram á barca, o vento cessou. Nos perigos, nos tropeços, nas dúvidas, é para Cristo que devemos olhar;- Corramos com perseverança para o combate que nos é proposto, pondo os olhos no autor e consumador da fé, Jesus, podemos ler na Epístola aos Hebreus. Cristo deve ser para nós uma figura clara, nítida e bem conhecida.
            Já o contemplamos tantas vezes que não podemos confundi-lo com um fantasma!!!- como os discípulos no meio da noite. Os seus traços são inconfundíveis, bem como a sua voz e o seu olhar. Olhou para nós tantas vezes!! É Nele que começa e culmina a vida cristã. Se queres salvar-te – escreve São Tomás de Aquino, olha para o rosto do teu Cristo.
            O nosso trato habitual com Ele na oração e nos sacramentos é a única garantia de podermos conservar-nos de pé, como filhos de Deus, no meio de um mar agitado como o que nos envolve. Mais ainda, junto de Cristo, os conflitos e trabalhos que encontramos quase todos os dias fortalecem-nos a fé, firmam-nos a esperança e unem-nos mais a Ele. Acontece conosco o mesmo que com as árvores que crescem em lugares sombreados e livres de ventos;- enquanto se desenvolvem externamente com um aspecto próspero, tornam-se fracas e moles, e facilmente são atacadas por qualquer coisa;- mas as árvores que vivem nos cumes dos montes mais altos, sacudidas por vários ventos e constantemente expostas á intempérie e a todas as inclemências, agitadas por fortíssimas tempestades e freqüentemente cobertas de neves, tornam-se mais robustas que o ferro.

            Pedro deixou de olhar para Cristo, e afundou-se. Mas soube recorrer imediatamente Áquele a quem tudo está submetido;- Senhor, salva-me! – gritou com todas as suas forças quando se sentiu perdido. E Jesus, com um carinho infinito, estendeu-lhe a mão e retirou-o das águas. Se vemos que submergimos, que as dificuldades ou a tentação são superiores á nossa capacidade de resistência, recorramos a Cristo;- Senhor, salva-me!!! E Cristo estender-nos-á a sua mão poderosa e segura, e passaremos incólumes por todos os perigos e tribulações. O Senhor tem sempre a sua mão estendida, para que nos agarremos a ela. Nunca permite que nos afundemos, se fazemos o pouco que está ao nosso alcance. Além disso, colocou ao nosso lado um Anjo da Guarda, para que nos proteja de todas as adversidades e seja uma ajuda poderosa no nosso caminho para o céu, procuremos a sua amizade, recorramos a ele com freqüência ao longo do dia, peçamos-lhe ajuda nas coisas grandes e pequenas – e alcançaremos a fortaleza de que necessitamos para vencer. ---------

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