Fé em Cristo. Com Ele – podemos
tudo;- sem Ele, somos incapazes de dar um passo.
Quando a fé se torna pequena, as
dificuldades agigantam-se.
Jesus sempre ajuda.
Logo
depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, o próprio Senhor
despediu a multidão e ordenou aos seus discípulos que embarcassem. Já devia ter
caído o sol. Jesus, depois daquele dia de trabalho, de solicitude pelos que o
tinham seguido, sentiu uma imensa necessidade de orar. Subiu a um monte vizinho
e ali permaneceu sozinho, noite adentro, em diálogo com seu Pai do céu. Do alto
do monte, Jesus vê os Apóstolos já longe da margem, e percebe o momento em que
a barca, batida pelas ondas porque o vento era contrário, passou a estar em
perigo. Pode divisar a pobre embarcação no meio do lago, pois era plenilúnio e
a Páscoa já próxima. Por volta da quarta vigília da noite, cerca de três horas
da madrugada – antes de o dia despontar, foi ter com eles caminhando sobre ás
águas.
Os discípulos, ao verem a figura
nebulosa que se aproximava deles pelo mar, tiveram medo;- é um fantasma,
disseram. E começaram a gritar. Mas Cristo deu-se a conhecer imediatamente;-
tende confiança, sou eu, não temais. É a atitude com que Cristo se apresenta
sempre na vida do cristão;- dando alento e serenidade. Pedro ganha confiança e,
levado pelo seu amor, que o faz desejar estar antes com o Mestre, faz-lhe um
pedido inesperado;- Senhor, se és tu, manda-me ir até onde estás por sobre as
águas. A audácia do amor não tem limites. E a condescendência de Jesus é
inesgotável. E Ele disse-lhe; Vem. Pedro , descendo da barca, começou a andar
sobre as águas em direção a Jesus.
Foram momentos impressionantes para
todos;- Pedro trocou a segurança da barca pela da palavra do Senhor. Não ficou
aferrado ás tábuas da embarcação, mas dirigiu-se para onde Jesus estava, a uns
poucos metros dos seus discípulos, que contemplavam atônitos o Apóstolo por
cima das águas embravecidas, Pedro avança sobre as ondas. Sustentam-no a fé e a
confiança no seu Mestre;- só isso.
Pouco importam o ambiente, as dificuldades que
rodeiam a nossa vida, se sabemos avançar cheios de fé e confiança ao encontro
de Jesus que nos espera;- pouco importa que as ondas sejam muito altas ou o
vento forte;- pouco importa que não seja do natural do homem caminhar sobre ás
águas. Se olhamos para Jesus, tudo nos é possível;- e esse olhar para Ele é a
virtude da piedade3. Se pela oração e pelos sacramentos nos mantemos unidos a Jesus,
caminharemos com firmeza. Deixar de olhar para Cristo é naufragar, é
incapacitar-se para dar um passo, mesmo em terra firme.
A fé, inicialmente grande, tornou-se
pequena depois, Pedro tomou consciência das ondas, dos ventos, de como era
impossível para o homem caminhar sobre as águas;- preocupou-se com as
dificuldades e esqueceu-se da única coisa que o mantinha na superfície;- a
palavra do Senhor. Perante os obstáculos, de que agora tomava consciência, a
sua fé diminuiu;- mas o milagre estava ligado a uma plena confiança em Cristo. Deus
pede as vezes (aparentes impossíveis) – que se tornam realidade quando nos
conduzimos com fé, de olhos postos no Senhor. Certa vez, o fundador do Opus
Dei, Mons. Josemaría Escrivá, dizia a uma filha sua que partia para outro país
onde encontraria as lógicas dificuldades próprias dos começos de um trabalho
apostólico;- quando te peço uma coisa, filha, não me digas que é impossível,
porque já o sei. Mas desde que comecei a Obra, o Senhor pediu-me muitos
impossíveis... e foram saindo! Trabalhos apostólicos em muitos países,
multidões de simples leigos, de todas as condições sociais, que se dispuseram a
santificar-se no seu lugar de trabalho, santificando esse mesmo trabalho e
santificando os outros através desse trabalho. Dizia-lhes Mons. Escrivá de mil
formas diferentes;- São precisos homens de fé, renovar-se-ão os prodígios que
lemos na Sagrada Escritura... Sempre foi assim na história da Igreja.
É Deus que nos mantém na superfície
e nos torna eficazes no meio de aparentes impossíveis, de um ambiente que não
raras vezes é contrário ao ideal cristão. É Ele quem faz que caminhemos sobre
as águas, e a condição é sempre a mesma;- olhar para Cristo e não deter-se
excessivamente a considerar obstáculos. São João Crisóstomo, ao comentar este
episódio do lago, sublinha que Jesus levou Pedro a saber por experiência
própria que toda a sua fortaleza procedia Dele, ao passo que de si mesmo só
podia esperar fraqueza e miséria;- e acrescenta;- Quando falta a nossa
cooperação, cessa também a ajuda de Deus. no momento em que Pedro começou a
temer e a duvidar, começou também a afundar-se.
Quando a fé se torna pequena, as
dificuldades agigantam-se;- A fé viva depende da capacidade que eu tenha de
responder afirmativamente a esse Deus que me chama e quer tratar-me e ser meu
amigo, a grande companhia da minha vida. Portanto, se eu lhe digo Sim, aqui
estou, se passo a viver ao seu lado, robusteço a minha fé, porque a minha fé
alicerça-se em Deus. pelo contrário, se me distancio de Deus, se o esqueço, se
o empurro para a periferia da minha vida, e esta submerge naquilo que é
puramente material e humano;- se me deixo arrastar pelas evidências imediatas e
Deus se desvanece da minha alma, como posso ter uma fé viva? Se não procuro o
trato íntimo com Cristo, o que é que resta da minha fé? Por isso, temos de
concluir que, em última instância, todos os obstáculos á vida de fé se reduzem
na sua gênese a um afastamento de Deus, a um separar-se de Deus, a um deixar de
conviver com Ele num trato face a face.
Pedro teria continuado a caminhar
firmemente sobre as águas e teria chegado até o Senhor se não tivesse afastado
Dele o seu olhar confiante. Todas as tempestades juntas, as de dentro da alma e
as do ambiente, nada podem enquanto estivermos bem ancorados na fé e na oração.
A nossa fé nunca deve fraquejar, mesmo que as dificuldades sejam enormes e a
sua violência pareça esmagar-nos. Que importa que tenhas contra ti o mundo inteiro,
com todos os seus poderes? Tu...para a frente!
- Repete as palavras do salmo;- O
senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? Ainda que me veja
cercado de inimigos, não fraquejará o meu coração. E descendo da barca, Pedro
caminhava sobre as águas ao encontro de Jesus. vendo, porém, que o vento era
forte, temeu e, começando a afundar-se, gritou;- Senhor – salva-me!!! No mesmo
instante, Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe;- homem de pouca fé,
porque duvidaste? E, mal subiram á barca, o vento cessou. Nos perigos, nos
tropeços, nas dúvidas, é para Cristo que devemos olhar;- Corramos com
perseverança para o combate que nos é proposto, pondo os olhos no autor e
consumador da fé, Jesus, podemos ler na Epístola aos Hebreus. Cristo deve ser
para nós uma figura clara, nítida e bem conhecida.
Já o contemplamos tantas vezes que
não podemos confundi-lo com um fantasma!!!- como os discípulos no meio da
noite. Os seus traços são inconfundíveis, bem como a sua voz e o seu olhar.
Olhou para nós tantas vezes!! É Nele que começa e culmina a vida cristã. Se
queres salvar-te – escreve São Tomás de Aquino, olha para o rosto do teu
Cristo.
O nosso trato habitual com Ele na
oração e nos sacramentos é a única garantia de podermos conservar-nos de pé, como
filhos de Deus, no meio de um mar agitado como o que nos envolve. Mais ainda,
junto de Cristo, os conflitos e trabalhos que encontramos quase todos os dias
fortalecem-nos a fé, firmam-nos a esperança e unem-nos mais a Ele. Acontece
conosco o mesmo que com as árvores que crescem em lugares sombreados e livres
de ventos;- enquanto se desenvolvem externamente com um aspecto próspero,
tornam-se fracas e moles, e facilmente são atacadas por qualquer coisa;- mas as
árvores que vivem nos cumes dos montes mais altos, sacudidas por vários ventos
e constantemente expostas á intempérie e a todas as inclemências, agitadas por
fortíssimas tempestades e freqüentemente cobertas de neves, tornam-se mais
robustas que o ferro.
Pedro deixou de olhar para Cristo, e
afundou-se. Mas soube recorrer imediatamente Áquele a quem tudo está
submetido;- Senhor, salva-me! – gritou com todas as suas forças quando se
sentiu perdido. E Jesus, com um carinho infinito, estendeu-lhe a mão e
retirou-o das águas. Se vemos que submergimos, que as dificuldades ou a
tentação são superiores á nossa capacidade de resistência, recorramos a
Cristo;- Senhor, salva-me!!! E Cristo estender-nos-á a sua mão poderosa e
segura, e passaremos incólumes por todos os perigos e tribulações. O Senhor tem
sempre a sua mão estendida, para que nos agarremos a ela. Nunca permite que nos
afundemos, se fazemos o pouco que está ao nosso alcance. Além disso, colocou ao
nosso lado um Anjo da Guarda, para que nos proteja de todas as adversidades e
seja uma ajuda poderosa no nosso caminho para o céu, procuremos a sua amizade, recorramos
a ele com freqüência ao longo do dia, peçamos-lhe ajuda nas coisas grandes e
pequenas – e alcançaremos a fortaleza de que necessitamos para vencer.
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