Possibilidade de pacto com o
demônio. Sabemos pela revelação que os homens podem entrar em comunicação
voluntária com os demônios e pedir que eles façam ou concedam coisas que
superam as forças humanas. Está fora de dúvida que o demônio intervém espontaneamente,
de modo sensível, na vida dos homens;- porque não haveria ele de intervir
diante da solicitação de uma vontade humana/? Não há nisto nada que seja
contrário á ordem das coisas, nem da parte de DEUS, nem do demônio – da parte
de DEUS, ELE pode permitir a ação do demônio como castigo para o homem por
causa de suas faltas, ou como provação para a vítima, ou para algum outro
efeito que ELE conhece, nos SEUS desígnios de sabedoria e justiça. Do lado, do demônio,
está bem de acordo com a sua psicologia atender a uma solicitação que tanto
lisonjeia seu orgulho, gratifica seu ódio de DEUS e do homem, e satisfaz seu
desejo de fazer mal.
O homem pode entrar em relação com
os anjos e com os demônios, uma vez que uns e outros são seres inteligentes e
livres. Nessa condição, tanto o homem quanto os anjos e os demônios podem fazer
uso de sua liberdade e unir-se para obtenção de um fim comum. Mas, para isso, é
preciso haver um ponto de contacto entre uns e outros;- quer dizer, é preciso
que uns e outros tenham disposição análogas. Quando as relações são
estabelecidas entre seres de natureza diversa, é evidente que o ser de natureza
superior impõe as suas disposições ao inferior;- é a lei do mais forte. Se o
ser mais elevado é um espírito bom, (isto é um anjo) o acordo se faz para o
bem. Se ao contrário, o ser mais elevado é um espírito maligno, o acordo não
pode senão para o mal. Pois o demônio, espiritual pervertido, não visa senão o
mal.
Como todo contrato, cada parte
procura atender aos seus interesses. Se, de um lado, o espírito maligno aceita
o acordo unicamente para o mal, a outra parte, o homem, poderá exigir que esse
mal lhe traga alguma vantagem, ao menos subjetiva;- dinheiro, honras, vingança,
prazer, do contrário, não haverá razão para haver acordo.por sua inteligência e
seu poder, os demônios são superiores aos homens. Eles conhecem os segredos da
natureza e os agentes físicos bem melhor que os sábios jamais chegarão a
conhecer. Eles são capazes de produzir resultados surpreendentes e mesmo,
quando isso serve a seus pérfidos desígnios, obter vantagens materiais para os
que recorrem a eles.
Como
é evidente, o homem não tem poder sobre os demônios e estes não são obrigados a
atender ao que foi pactuado;- mas o maligno quando atende aos desejos do homem,
não o faz porque esteja a isso obrigado, seja forçado a isso pelo homem, mas
sim porque satisfaz á sua soberba ver-se solicitado pelo homem, e até venerado
por ele, em lugar de DEUS;- de outro lado, atendendo a esses pedidos, ele
pratica o mal, quer em relação a terceiros, como se dá com frequência, quer em
relação ao próprio solicitante, cuja alma conduz á perdição, que é o que ele
tem em vista ao aceitar o pacto.
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