quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Contestação e amor;- Battistini.


 
 

Quanto és contestável, ó igreja! Mesmo assim, quanto te amo! Quanto me tens feito sofrer! Ao mesmo tempo, quantas coisas eu te devo. Gostaria te ver desfeita, ao mesmo tempo, preciso tanto da tua presença! Tens me dado tantos escândalos, ao mesmo tempo, fizeste-me entender a santidade. Nada vi no mundo mais obscurantista, mais compromisso, mais falso e nada toquei de mais puro, mais generoso, mais bonito.

            Quantas vezes tive o desejo de fechar-te na cara a porta de minha alma e quantas vezes rezei para poder morrer em teus braços seguros. Não! Não posso me libertar de ti, porque eu sou tu, mesmo não sendo tu, completamente.

            E, depois, para onde irei? Construir outra? Porém, não poderei construí-la senão com os mesmos defeitos, porque são os meus que carrego dentro. E, se a construir, será a minha igreja, não mais a igreja de cristo. Sou bastante velho para entender que não sou melhor que os outros. Antes de ontem, um amigo escreveu uma carta a um jornal;- deixo a igreja porque, com seu compromisso com os ricos, não é mais confiável! Faz-me pena! Ou é um sentimental que não tem esperança, então, desculpo-o. ou é um orgulhoso que crê ser melhor que os outros. Nenhum de nós é confiável, até que permanece nesta terra. São Francisco gritava;- tu me crês santo, e não sabes que posso ter filhos, até com uma prostituta, se Cristo não me sustentar?

            A credibilidade não é dos homens, é somente de Deus e de Cristo! Dos homens, é a fraqueza e, talvez, a boa vontade de ser algo com a ajuda da graça que jorra e brota das veias invisíveis da igreja visível. Talvez a igreja de ontem era melhor que a igreja de hoje? Será que a igreja de Jerusalém era mais confiável que aquela de Roma? Quando Paulo chegou a Jerusalém levando, no coração, sua sede de universalidade no desejo ardente de seu sopro carismático, talvez os discursos de Tiago (sobre a circuncisão) ou a fraqueza de Pedro (que tardava com os ricos de então, os filhos de Abraão, e escandalizava por almoçar somente com os puros) puderam criar-lhe dúvidas sobre a veracidade da igreja que Cristo havia fundado há pouco tempo, e fazer-lhe nascer a vontade de ir e fundar outra em Antioquia ou em Tarso?

            Talvez Santa Catarina de Siena, vendo o papa fazer uma política suja contra a sua cidade, a cidade de seu coração, poderia imaginar a idéia de correr as colinas da redondezas, transparentes como o céu, e fundar uma outra igreja mais transparente que aquela de Roma, tão cheia de pecados, tão fechada e tão políticante? Não, não creio! Pois Paulo e Catarina sabiam distinguir, entre as pessoas que compõem a igreja, o pessoal da igreja, dizia Maritain, e esta sociedade humana chamada igreja que, diferente de todas as outras coletividades humanas, recebeu de Deus uma personalidade sobrenatural, santa, imaculada, pura, indefectível, amada como esposa por Cristo e digna de ser amada por mim como mãe dulcíssima.

            Aqui está o ministério da igreja de Cristo, verdadeiro e impenetrável mistério. Possui o poder de me dar a santidade e é composta, toda mesmo, do primeiro ao último, somente de pecadores. E que pecadores! Possuí a fé onipotente e invencível de renovar o mistério eucarístico e é composta de homens fracos que andam ás apalpadelas, no escuro, e lutam a cada dia contra a tentação de perder a fé.

            Leva uma mensagem de pura transparência e está encarnada num lodo sujo, como sujo é o mundo. Fala sobre a doçura do Mestre, da sua não violência e, na história, mandou exércitos para acabar com os infiéis e torturar os heresiarcas. Transmite uma mensagem de evangélica pobreza, e não pára de procurar dinheiro e alianças com os potentes. Os que sonham coisas diferentes desta realidade somente perdem tempo e recomeçam sempre do início. E, por demais, demonstram não ter entendido nada a respeito do homem.

            Quando era jovem, não entendia porque Jesus, apesar da negação de Pedro, o quis como chefe de sua igreja, como seu sucessor e primeiro Papa. Agora, não mais fico espantado nem maravilhado, compreendo sempre melhor que ter fundado a igreja sobre o túmulo de um( traidor), de um homem que fica espantado pelas fofocas de uma (criada), era uma advertência contínua para manter cada um de nós na humildade e na consciência da própria fragilidade. não! Não saio desta igreja fundada sobre uma pedra tão fraca, porque eu fundaria outra sobre uma pedra ainda mais fraca que sou eu. Mas, depois, para que servem as pedras? O que conta mesmo é a promessa de Cristo, aquilo que conta mesmo é o cimento que une as pedras, que é o Espírito Santo. Somente ele é capaz de fazer (construir) a igreja com pedras tão mal cortadas, como somos nós. Neste ponto, Deus é verdadeiramente Deus, isto é, o único capaz de criar coisas novas, pois não me importa que ele faça céus e terra novos, é mais necessário que faça novos os nossos corações.

            E este é o trabalho de Cristo, e este é o ambiente divino da igreja. Quereis impedir este (criar novos corações), expulsando alguém da assembléia do povo de Deus? Ou quereis vós, procurando outro lugar mais seguro, colocar-vos em perigo de perder o SENHOR?

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Deus santo – Deus forte -  Deus imortal – tende piedade de nós. Amém.

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