quarta-feira, 6 de setembro de 2017

FOI RECOLHIDA NO LIXO - BATTISTINI


 
 

            Foi recolhida no lixo, amada como filha e depois despejou de casa a sua benfeitora. Era ainda escuro, naquela manhã chuvosa. O marido e as duas filhas estavam dormindo. Dona Maria tinha se levantado mais cedo, como fazia todos os dias, para preparar o café para sua família. Sempre abria a porta principal para fazer entrar um pouco de ar puro, e logo fechava. Quando estava para fechar viu, encostada na parede, bem perto da porta, uma bolsa de vime, com um pano branco por cima. Percebeu que era algo de estranho. E foi logo conferir. Tirando o pano, apareceu o rosto de uma criancinha que dormia. Dona Maria teve um estremecimento. Apanhou o embrulho, deu uma olhada para a rua, e, na esquina viu uma sombra, provocada pela luz do poste, se afastar, rapidamente. Entrou em casa e chamou pelo marido e pelas filhas, com muita ansiedade. Todos assustados acorreram, semi cobertos...

            Olhem aqui, o que eu encontrei na frente da nossa porta!!! E chorava de emoção. Ao ver aquela criança, todo mundo arregalou os olhos, sem saber o que fazer. Depois de muitos projetos, decidiram levá-la para o hospital, onde havia um departamento especializado da prefeitura que solucionava esses casos. Naquele dia o marido não foi trabalhar e nem as filhas foram para a escola. Quando estavam indo, para o hospital para entregar a criança. Dona Maria teve uma ideia. Dirigindo-se ao marido e ás filhas, fez esta pergunta.- e se nós ficássemos com a criança?? Todos se entreolharam. Todo mundo já tinham pensado nesta ideia, mas ninguém queria ser o primeiro a manifestá-la. Ali mesmo no meio da rua, decidiram voltar para casa, e adotar a criança, que estava com poucos dias de vida. Assim foi feito.

            A menina cresceu muito mimada. Foi batizada e recebeu o nome da mãe de d. Maria;- Isabel. Cresceu com toda mordomia. Ás vezes até demais. Ela parecia já saber de tudo. Mesmo assim, continuou sua vida, não totalmente entrosada com os seus. Desde pequena, já dava sinais de menina independente, sem dar muita importância á mãe adotiva e ás irmãs. Porém, quando a primeira filha casou, a menina adotada, participou pela metade. No meio da festa se retirou, alegando indisposição. No entanto o caráter indesejado se revelava. Quando casou a segunda filha, fez a mesma coisa, participou não completamente, mas em seu coração, estava feliz, pois agora ficava sozinha em casa com seus pais adotivos. Estes fizeram questão de passar a casa em nome dela.

            O pai, depois de dois anos, morreu de câncer. A adotada ficou sozinha com a mãe. A partir daí a menina se revelou o que era;- um caráter intratável, descontente, rebelde, com pitadas de malícia, maldade e perversidade. E começou a exigir demais. Toda semana queria um vestido novo, quis mudar de colégio, deixou de ir na missa com a mãe adotiva, e passou a frequentar uma seita, muito equívoca. Também deixou de rezar e começou a responder á mãe, de maneira descortês e com irritação, misturada com desprezo. A ingratidão da filha começou a se manifestar com toda crueza. Não só maltratava sua mãe, mas também passou a zombar da maneira dela fazer as coisas. Parece que nutria para com ela um ódio escondido e que se revelava aos poucos, e agora estava se agitando, rapidamente.

            Começou a exigir o café na cama, deixou de lavar suas roupas e arrumar a cozinha. Tudo exigia que sua mãe fizesse. Alguém que entrasse em casa tinha a ideia que a sua mãe era a empregada da filha adotiva. Um dia, depois de uma discussão em que a adotada ficou vermelha e tratou sua mãe com uma palavra impublicável, esta arriscou acenar como foi encontrada;- dentro de um cesto de vime, abandonada. Quando a adotada ouviu isso, passou dos limites, ficou vermelha como uma pimenta, seus olhos começaram a girar sobre si mesmos, e totalmente fora de si, apanhou uma vassoura e, batendo na mãe adotiva, expulsou-a de casa, e fechou a porta. Apanhou suas roupas no armário e jogou-as pela janela. Três dias depois, uma das filhas de dona Maria apareceu em sua casa, com seu marido, para tomar satisfação do fato. Veio abrir um pastor da seita que frequentava.

            Depois que os dois se apresentaram, o pastor, com calma disfarçada, respondeu;- sinto muito, esta casa já está em meu nome há mais de um mês. A filha adotiva não apareceu. Estava espiando da sala. A porta foi fechada. A filha caçula de dona Maria, afastando-se, disse ao marido;- cuspiu no prato onde comeu. É muito feio, muito feio. E chorava com um nó na garganta. Voltaram para casa. Nunca quis que sua mãe voltasse para ver a cara da sua irmã adotada. Fatos como estes, deixam marcas profundas. Não só em quem é massacrado desta maneira tão selvagem, mas, sobretudo, em quem os comete, pois os faz assemelharem mais a feras do que a gente.

            Sim, cuspir no prato em que se comeu, é uma das coisas mais feias do universo, que embrutece o ser humano tornando-o menos gente e mais animal selvagem.

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            HOJE, QUEM ESTÁ CUSPINDO NO PRATO ONDE COMEU?  

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