Foi recolhida no lixo, amada como
filha e depois despejou de casa a sua benfeitora. Era ainda
escuro, naquela manhã chuvosa. O marido e as duas filhas estavam dormindo. Dona
Maria tinha se levantado mais cedo, como fazia todos os dias, para preparar o
café para sua família. Sempre abria a porta principal para fazer entrar um
pouco de ar puro, e logo fechava. Quando estava para fechar viu, encostada na
parede, bem perto da porta, uma bolsa de vime, com um pano branco por cima.
Percebeu que era algo de estranho. E foi logo conferir. Tirando o pano,
apareceu o rosto de uma criancinha que dormia. Dona Maria teve um
estremecimento. Apanhou o embrulho, deu uma olhada para a rua, e, na esquina
viu uma sombra, provocada pela luz do poste, se afastar, rapidamente. Entrou em
casa e chamou pelo marido e pelas filhas, com muita ansiedade. Todos assustados
acorreram, semi cobertos...
Olhem aqui, o que eu encontrei na frente da nossa
porta!!! E chorava de emoção. Ao ver aquela criança, todo mundo arregalou os
olhos, sem saber o que fazer. Depois de muitos projetos, decidiram levá-la para
o hospital, onde havia um departamento especializado da prefeitura que
solucionava esses casos. Naquele dia o marido não foi trabalhar e nem as filhas
foram para a escola. Quando estavam indo, para o hospital para entregar a
criança. Dona Maria teve uma ideia. Dirigindo-se ao marido e ás filhas, fez
esta pergunta.- e se nós ficássemos com a criança?? Todos se entreolharam. Todo
mundo já tinham pensado nesta ideia, mas ninguém queria ser o primeiro a
manifestá-la. Ali mesmo no meio da rua, decidiram voltar para casa, e adotar a
criança, que estava com poucos dias de vida. Assim foi feito.
A menina cresceu muito mimada. Foi batizada e recebeu o
nome da mãe de d. Maria;- Isabel. Cresceu com toda mordomia. Ás vezes até
demais. Ela parecia já saber de tudo. Mesmo assim, continuou sua vida, não
totalmente entrosada com os seus. Desde pequena, já dava sinais de menina
independente, sem dar muita importância á mãe adotiva e ás irmãs. Porém, quando
a primeira filha casou, a menina adotada, participou pela metade. No meio da
festa se retirou, alegando indisposição. No entanto o caráter indesejado se
revelava. Quando casou a segunda filha, fez a mesma coisa, participou não
completamente, mas em seu coração, estava feliz, pois agora ficava sozinha em
casa com seus pais adotivos. Estes fizeram questão de passar a casa em nome
dela.
O pai, depois de dois anos, morreu de câncer. A adotada
ficou sozinha com a mãe. A partir daí a menina se revelou o que era;- um
caráter intratável, descontente, rebelde, com pitadas de malícia, maldade e
perversidade. E começou a exigir demais. Toda semana queria um vestido novo,
quis mudar de colégio, deixou de ir na missa com a mãe adotiva, e passou a
frequentar uma seita, muito equívoca. Também deixou de rezar e começou a
responder á mãe, de maneira descortês e com irritação, misturada com desprezo.
A ingratidão da filha começou a se manifestar com toda crueza. Não só
maltratava sua mãe, mas também passou a zombar da maneira dela fazer as coisas.
Parece que nutria para com ela um ódio escondido e que se revelava aos poucos,
e agora estava se agitando, rapidamente.
Começou a exigir o café na cama, deixou de lavar suas
roupas e arrumar a cozinha. Tudo exigia que sua mãe fizesse. Alguém que
entrasse em casa tinha a ideia que a sua mãe era a empregada da filha adotiva.
Um dia, depois de uma discussão em que a adotada ficou vermelha e tratou sua mãe
com uma palavra impublicável, esta arriscou acenar como foi encontrada;- dentro
de um cesto de vime, abandonada. Quando a adotada ouviu isso, passou dos
limites, ficou vermelha como uma pimenta, seus olhos começaram a girar sobre si
mesmos, e totalmente fora de si, apanhou uma vassoura e, batendo na mãe
adotiva, expulsou-a de casa, e fechou a porta. Apanhou suas roupas no armário e
jogou-as pela janela. Três dias depois, uma das filhas de dona Maria apareceu
em sua casa, com seu marido, para tomar satisfação do fato. Veio abrir um
pastor da seita que frequentava.
Depois que os dois se apresentaram, o pastor, com calma
disfarçada, respondeu;- sinto muito, esta casa já está em meu nome há mais de
um mês. A filha adotiva não apareceu. Estava espiando da sala. A porta foi
fechada. A filha caçula de dona Maria, afastando-se, disse ao marido;- cuspiu
no prato onde comeu. É muito feio, muito feio. E chorava com um nó na garganta.
Voltaram para casa. Nunca quis que sua mãe voltasse para ver a cara da sua irmã
adotada. Fatos como estes, deixam marcas profundas. Não só em quem é massacrado
desta maneira tão selvagem, mas, sobretudo, em quem os comete, pois os faz
assemelharem mais a feras do que a gente.
Sim, cuspir no prato em que se comeu, é uma das coisas
mais feias do universo, que embrutece o ser humano tornando-o menos gente e
mais animal selvagem.
---------------------------------------------
HOJE, QUEM ESTÁ
CUSPINDO NO PRATO ONDE COMEU?
Nenhum comentário:
Postar um comentário