- a fé é um dom de Deus.
- necessidade de boas disposições para crer.
- fé e oração. Pedir fé.
Jesus chegou a um lugar onde
seus discípulos o aguardavam. Encontravam-se também ali um grupo de escribas,
uma grande multidão e um pai que tinha levado consigo um filho doente. Ao verem
aparecer Jesus, encheram-se de alegria e foram ao seu encontro;- toda a
multidão ficou surpreendida, e, correndo para ele, saudavam-no. Todos sentiam
falta dele. O pai avança então e dirige-se ao Senhor;- mestre, trouxe-te o meu
filho, que tem um espírito mudo. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem,
mas eles não puderam. Esse pai tinha uma fé deficiente;- tinha alguma, sem
dúvida, pois fora á procura de Jesus, mas não a fé plena, a confiança sem
limites que Jesus pedia e pede. As palavras com que se dirige a Cristo são
humildes, mas hesitantes;- se podes alguma coisa, ajuda-nos, tem compaixão de
nós. E Jesus, conhecendo as perplexidades daquela alma, antecipa-se;- se tu
podes crer, tudo é possível ao que crê.
Tudo é possível;- onipotentes! Mas com fé. Aquele homem
sente que a sua fé vacila, teme que essa escassez de confiança impeça que o seu
filho recupere a saúde. E chora. Oxalá não nos envergonhemos desse pranto;- é
fruto do amor de Deus, da oração contrita, da humildade. E o pai do rapaz,
banhado em lágrimas, exclamou;- eu creio Senhor, mas ajuda a minha
incredulidade. Que grande ato de fé para o repetirmos muitas vezes! Jesus, eu
creio, mas imprime mais firmeza á minha fé! Ensina-me a acompanhá-la com obras,
a chorar os meus pecados, a confiar no teu poder e na tua misericórdia! A fé é
um dom divino;- só Deus pode infundi-la mais e mais na alma. É ele quem abre o
coração do fiel para que receba a luz sobrenatural, e por isso devemos
implorá-la. Mas, ao mesmo tempo, é necessária uma disposição interna de
humildade, de limpeza, de abertura, de amor, que abre caminho a uma segurança
cada vez maior. Abrir os olhos- comenta São João Crisóstomo- é coisa de Deus,
escutar atentamente é coisa nossa;- a fé é simultaneamente obra divina e obra
humana!
Se alguma vez a nossa fé vacila diante das dificuldades,
ou se vacila a fé dos nossos amigos, irmãos, filhos, imitemos este bom pai na
sua humildade;- não tem méritos próprios a apresentar, nem mesmo uma fé sólida,
e por isso abandona-se á misericórdia divina;- ajuda-nos, Senhor, tem compaixão
de nós. Este é o caminho seguro que toda a oração deve seguir. A humildade,
aliada á pureza de alma e á abertura de coração para a verdade, dá-nos a
capacidade de receber esse dom que Jesus
nunca nega. Se a semente da graça por vezes não prospera, é unicamente porque
não encontra a terra preparada. Senhor, vem em ajuda da minha incredulidade!, -
pedimos-lhe na intimidade da nossa oração. Não permitas que vacile nunca a
minha confiança em ti!
O que foi que viram em Jesus aqueles que se cruzaram com
ele pelos caminhos e aldeias? Viram aquilo que as suas disposições interiores
lhes permitiam ver. Se tivessem podido ver Jesus através dos olhos de sua Mãe!
Que horizontes! E que pequenez a de muitos fariseus que andavam com aquelas
questiúnculas a respeito da lei! Nem sequer nos milagres souberam descobrir o
Messias! E o conhecimento que tinham das Escrituras não lhes serviu para
perceber que em Jesus se cumpria tudo o que se havia predito sobre o Esperado
das Nações. Do mesmo modo, muitos outros contemporâneos de Jesus se negaram a
crer nele porque não tinham o coração bom, porque as suas obras não eram retas,
porque não amavam a Deus nem tinham vontade;- a minha doutrina não é minha –
diria o Senhor,- mas daquele que me enviou. Quem quiser fazer a vontade dele
saberá se a minha doutrina é de Deus ou se falo de mim! não tiveram as
disposições adequadas – não procuravam a honra de Deus, mas a deles próprios.
Numa palavra – não apenas não possuíam a Deus Pai em seus corações, mas tinham
o DIABO por pai, porque as suas obras não eram boas, como não o eram os seus
sentimentos nem as suas intenções. Nem sequer os milagres podem substituir as
necessárias disposições interiores.
Deus deixa-se ver por aqueles que são capazes de vê-lo
por terem os olhos da alma abertos. Porque a verdade é que todos tem olhos, mas
alguns tem-nos cobertos de trevas e não podem ver a luz do sol. E a luz solar
não deixa de brilhar por haver cegos que não veem;- e portanto a escuridão que
os envolve deve-se atribuir unicamente á sua falta de capacidade de ver;- devemos
ter em conta – para nós mesmos e na nossa ação apostólica que, não raras vezes,
o grande obstáculo para que se aceite a fé ou uma vida cristã coerente são os
pecados pessoais não perdoados, os afetos desordenados e as faltas de
correspondência á graça. O homem – levado pelos seus preconceitos ou instigado
pelas suas paixões e pela má vontade, pode não só negar a evidência dos sinais
externos que tem diante dos olhos, mas também resistir e afastar as inspirações
superiores que Deus infunde na sua alma.
Quando falta o desejo de crer e de cumprir a vontade de
Deus em tudo, custe o que custar, não se aceita nem mesmo o que é evidente. Por
isso, quem vive encerrado no seu egoísmo, quem só busca a sua comodidade ou
prazer, terá muita dificuldade em crer ou em entender um ideal nobre;- e, se
for alguém que respondeu positivamente a uma vocação de entrega a Deus,
encontrará dentro de si uma resistência crescente perante as exigências
concretas da chamada divina. A confissão sincera e contrita apresenta-se então
como o grande meio de encontrar ou robustecer o caminho da fé, a luz interior
necessária para ver o que Deus pede. Quando uma pessoa purifica e limpa seu
coração, fica já com o terreno preparado para que a semente da fé e da
generosidade cresça na sua alma e dê frutos. É da experiência comum que muitos
problemas e dúvidas terminam com uma boa confissão;- a alma vê com tanto maior
clareza quanto mais limpa estiver e quanto melhores forem as disposições da sua
vontade.
Ao pedir a cura do seu filho, o pai disse a Jesus que já
se dirigira aos seus discípulos, mas sem resultados;- pedi aos teus discípulos
que o expulsassem (o demônio mudo) – mas eles não puderam. Os discípulos
sentiram-se um pouco abalados por não terem conseguido eles próprios curar o jovem
lunático, pois quando entraram em casa e puderam estar a sós com o Senhor,
perguntaram-lhe;- porque não pudemos expulsá-lo? E o Senhor deu-lhes uma
resposta de grande utilidade também para nós. Disse-lhes;- esta espécie de
demônios não pode ser expulsa por nenhum meio, a não ser pela oração. Só por
meio da oração é que conseguiremos vencer determinados obstáculos, superar
tentações e ajudar muitos amigos a chegarem a Cristo. Comentando esta passagem
do Evangelho – São Beda explica que, ao ensinar os apóstolos como devia ser
expulso um demônio tão maligno, Jesus nos indicava como devemos viver, e como a
oração é o meio de vencermos até as maiores tentações. E acrescenta que a
oração não consiste apenas nas palavras com que invocamos a misericórdia
divina, mas também em tudo o que fazemos em favor de Nosso Senhor, movidos pela
fé. Todo o nosso trabalho e todas as nossas obras devem ser, pois, oração
transbordante de fé.
Peçamos a Deus com frequência que no-la aumente. Quando
na ação apostólica os frutos demorarem a chegar, quando os defeitos pessoais ou
alheios parecerem uma muralha intransponível, quando nos virmos com poucas
forças para aquilo que Deus quer de nós;- Senhor, aumenta-nos a fé! Os
apóstolos pediam assim quando, apesar de verem e ouvirem o próprio Cristo,
sentiam a sua confiança fraquejar.
Jesus ajuda sempre. Ao longo do dia de hoje, e sempre,
sentiremos a necessidade de dizer;- Senhor, não me deixeis somente com as
minhas forças, que eu não posso nada! A petição daquele bom pai anima-nos a suplicar
hoje a Jesus uma fé capaz de transportar montanhas. Dizemos agora ao Senhor o
mesmo, com as mesmas palavras, ao acabarmos este tempo de meditação;- Senhor,
eu creio! Eduquei-me na tua fé, decidi seguir-te de perto. Ao longo da minha
vida, implorei repetidamente a tua misericórdia. E, repetidas vezes também,
pareceu-me impossível que tu pudesses fazer tantas maravilhas no coração dos
teus filhos.
Senhor, creio! Mas ajuda-me, para que creia mais e
melhor! E dirigimos igualmente esta súplica a Santa Maria – Mãe de Deus e Mãe
nossa, Mestra da fé;- abem aventurada tu que creste, porque se cumprirão as
coisas que da parte do senhor te foram ditas.
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