terça-feira, 6 de setembro de 2011

Orações do Livro Imitação de Cristo - Da resistência às tentações


Da resistência às tentações
1.      Enquanto vivemos neste mundo não podemos estar sem tentações e trabalhos.
Daí estar escrito no livro de Jó: É um combate a vida do homem sobre a terra.
Cada qual, pois, seja solícito em acautelar-se contra as tentações pela vigilância e pela oração, para que não nos surpreenda o demônio, que nunca dorme e busca, de todos os lados, a quem possa devorar.
Ninguém há tão perfeito e santo que não tenha, às vezes, tentações; não podemos viver totalmente isentos delas.
2.      Ainda que rudes e penosas, são, contudo ,utilíssimas quase sempre, porque nelas é que o homem se prova, purifica e instrui.
Todos os santos passaram por muitos trabalhos e tentações e grande proveito colheram; os que, porém, não as puderam suportar, foram reprovados e pereceram.
Não há comunidade tão santa e lugar tão retirado, onde não haja tentações e adversidades.
3.      Nenhum homem, enquanto viver, está livre das tentações; porque, em nós mesmos, está a fonte donde promanam: a concupiscência com que nascemos.
Acabada uma tribulação ou tentação, logo vem outra e sempre teremos alguma coisa que sofrer; porque perdemos o dom da primitiva felicidade.
Procuram muitos fugir às tentações e nelas mais violentamente caem.
Não as poderemos vencer com lhes fugir somente; mas com paciência e verdadeira humildade tornar-nos-emos mais fortes que todos os nossos inimigos.
4.      Pouco aproveitará  quem apenas as desvia, exteriormente, sem lhes arrancar as raízes; ao contrário, mais depressa voltarão e sentir-se-á pior que dantes.
Pouco a pouco, ajudado por Deus, melhor as vencerás, com paciência e longanimidade, que com importuna violência e próprio esforço.
Toma, amiúde, conselho na tentação e não trates com dureza ao que está tentado, antes procura dar-lhe conforto, como desejarias que fizessem contigo.
5.      A inconstância de espírito e a pouca confiança em Deus são princípio de tentações perigosas.
Assim como as ondas jogam, de uma a outra parte, a não sem governo, também as tentações agitam o homem remisso e pouco firme nos seus propósitos.

O fogo prova ao ferro e ao justo, a tentação.
Ignoramos, muitas vezes, o que podemos e as tentações mostram o que somos.
Devemos, porém, vigiar, máximo no princípio da tentação; mais fácil é vencer o inimigo quando, não lhe consentindo  entrar em nossa alma, lhe fazemos frente logo que bate  ao limiar.
Donde veio alguém a dizer: Resiste no começo, que tarde vem o remédio, quando cresceu o mal, com a longa demora.
Com efeito, primeiro, se oferece à alma um simples pensamento, mais tarde uma persistente imaginação, depois o deleite, seguindo-se lhe os afetos desordenados e, finalmente, o consentimento.
E quanto mais negligente for alguém na resistência, tanto mais fraco se tornará cada dia e mais forte o seu adversário.
E assim, pouco a pouco, de todo nos invade o inimigo quando, desde o início, não se lhe resiste.
6.      Uns são mais rudemente tentados no começo da conversão, outros no fim, muitos quase por toda a vida; alguns apenas o são levemente, segundo a sabedoria e a equidade da providência divina, que pondera o estado e o mérito dos homens e tudo ordena para a salvação dos seus escolhidos.
7.      Por isso, quando tentados, não desesperemos, antes com maior fervor, peçamos a Deus que, em nossas tribulações, se digne de nos ajudar, e segundo diz São Paulo, ele fará que tiremos da tentação tal força que possamos vencer.
Humilhemos, pois, as nossas almas, debaixo da mão de Deus, em qualquer tribulação ou provação, porque ele salvará e engrandecerá aos humildes de espírito.
8.      Nas tentações e provações vê-se quanto o homem tem aproveitado; nelas se colhe maior mérito e se patenteia melhor a virtude.
Não é grande coisa um homem ser devoto e fervoroso, quando nada o molesta; mas se no tempo da adversidade sofre com paciência, dá grande esperança de aproveitamento.
Alguns vencem as grandes tentações e são , muitas vezes, levados de vencida pelas pequenas e quotidianas; a fim de que humilhados, não presumam de si mesmos grandes coisas, pois são tão fracos nas pequenas.
                                   REFLEXÔES
Nenhum homem está isento de tentações. Permite-as Deus para que nos provem, nos purifiquem, nos instruam e nos humilhem.

Não é só pela fuga ou por uma resistência violenta que venceremos, senão também por uma paciência sossegada, por uma inteira confiança em Deus.
Vigiemos contudo segundo o preceito do divino Mestre: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”.
Vence-se facilmente a tentação quando nasce, mas se a deixarmos crescer e fortificar, não teremos bastantes forças para resistir-lhe, e sucumbindo, seremos punidos de nossa negligência ou de nossa presunção.
Assim sucumbiu São Pedro, porque teve demasiada confiança em si mesmo, e se expôs ao perigo sem se fortificar com a vigília e a oração.
Se, como Pedro, fomos descuidados ou presunçosos, sejamos como ele contritos e arrependidos. Reconheçamos nossa fraqueza pouco préstimo , e humilhemo-nos cada vez mais. A humildade será o fundamento de nossa segurança, de nosso aproveitamento, de nossa paz e de toda a perfeição.
Bem sei, Senhor, que aos que vos amam e temem tudo se lhes converte em bem; não vos peço, Deus meu, ser isento de tentações, mas luz para conhecê-las, fortaleza para resistir-lhes, humildade para não confiar em mim, conforto para  não desfalecer e vitória no combate; permiti, Senhor, sejam frustradas todas as ciladas do inimigo, e dele vencedor possa eu colher os saudáveis frutos da santa humildade, que são a paz interior neste mundo e a glória na pátria dos bem-aventurados.
                                                                      Amém.



Nenhum comentário: