sábado, 13 de janeiro de 2018

QUEM SÃO OS EGUNS? PADRE EDVINO



            Consoante crença de certas tribos africanas, os eguns são as almas dos antepassados, dos já falecidos, cidadãos do astral. A palavra nagô é egungum e significa esqueleto. Consoante sua crença é por ocasião das festas realizadas em sua honra que esses mortos voltam a se comunicar com os seus descendentes. De que maneira o fazem? Por via de materialização. Assoma a nossos olhos uma figura fantasmagórica, a mais excêntrica que possamos imaginar. A vestimenta do espírito materializado é uma espécie de macacão superfino, de fazenda preciosa e caríssima. Ostenta uma combinação de desenhos em cores marrom, azul, vermelho e branco, cuja abertura larga é quadrada na extremidade superior, no vértice da cabeça.
Na altura do rosto se localizam dois orifícios para a visão. No intuito de encobri-los, pendem de lá colares diversicolores, miçangas e guias. Em toda superfície do peito pedras preciosas em profusão, de diminuto tamanho, imitando olhos e formando destarte uma máscara sui generis. Algum tantinho mais para baixo, outros pequenos espelhos. No centro do peito um de formato maior, completando o peitilho precioso. Ao redor de todo o corpo do (espírito) da cabeça até quase os pés, em forma circular, se acham pendentes tiras avulsas de um palmo de largura, de panos finos e variegadamente coloridos;- vermelho, verde, azul, amarelo, marrom e branco. Seda, algodão e outras fazendas se acham representadas...
Nos pés da indumentária deve existir uma espécie de sola de couro ou matéria plástica, em todo caso, algum elemento resistente a permitir ao (egum) de executar sem problemas suas danças, seus saltos durante horas e dar seus passeios pelos arredores da casa de candomblé. Desta riquíssima indumentária, cujo preço, de cada conjunto, deve orçar a mais de dez mil – apareceram umas seis variantes naquela memorável noitada. As tiras de pano livremente pendentes ao redor do corpo, em seu aspecto multicolorido engendram um efeito grandioso durante a dança dos eguns, ao som atordoante dos atabaques. É particularmente nessas danças que os eguns chegam facilmente a aproximar-se demais dos vivos, momento em que as varas brancas dos ogés devem entrar em vigorosa ação, para defender a vida dos presentes na primeira fila. Os eguns experimentam um afeto tão veemente por eles, e, premidos pelas saudades, desejariam levá-los incontinenti consigo.
Daí a crença da morte instantânea de quem toca neles ou for tocado por eles. Seria como se alguém encostasse a mão num fio de alta tensão, morrendo eletrocutado fatalmente. Percebe-se, aqui e lá, o horror estampado no semblante dos que ficam próximos aos espíritos. Somente as varas sagradas possuem o condão de tocar impunemente no egum materializado. Eis porque os ogés passam muito trabalho no afã de moderarem os ímpetos de apego a dominarem os ancestrais visitantes. O autor destas linhas, em diversas ocasiões favoráveis, durante aquelas longas horas, se empenhou por todas as vias ao seu alcance, de dar um rápido abraço ou pelo menos umas batidinhas amigas com a mão no ombro de algum egum, mas a vigilância férrea dos homens das varas mágicas não o permitiu. Vejamos porque;- levo nítida recordação, de como na minha infância, lá dos 5 aos 10 anos, ficava encantado ao pensar na época do natal, quando viria o Menino Jesus distribuir os presentes merecidos para as crianças aplicadas e bem comportadas. Como me empenhava em ser obediente e bonzinho para receber integralmente a lista dos brinquedos encomendados.
Mas a alegria vinha um tanto mesclada de preocupação. É que junto do  CHRISTKINDCHEN    (MENINO DO NATAL ) vinha também a figura temerosa do PELZNICHEL – UM VELHO RABUJENTO E DISFORME, DIR-SE-IA LEMBRANDO O DEMÔNIO. Embora salutar para a educação dos pequenos, seu papel era negativo, baseado exclusivamente no temor. Sua missão era repreender e castigar com todo rigor as crianças de má conduta, trazer-lhes uma vara de marmelo, com a qual os pais deveriam castigá-los, tão logo fizessem alguma estrepolia merecedora de punição.
Por vezes esse papai Noel, em combinação com os pais, aplicava na hora, na noite mesma do natal, uma surra medicinal nos incorrigíveis. O menino Jesus, materializado numa pessoa do sexo feminino, de aparência bela, meiga, vestida de noiva, ao fazer a entrega dos mimos de natal, dava toda uma série de bons conselhos para a boa formação e progressos dos meninos. Os dois vinham, ora juntos, ora em separado, de acordo com o imperativo das circunstancias;-  tempos saudosos aqueles! A gente vivia numa quadra feliz, embalado em doces ilusões, até um belo dia desses se esboroarem em pó e fumo aqueles sonhos fagueiramente acalentados. A partir daquela fatídica data, o natal havia perdido mais de 75% de seus encantos.
Essa história dos eguns evocou, com espontaneidade, essa quadra feliz da vida em que andávamos ás voltas com Papais e Mamães Noel. Com efeito, esses eguns nada mais representam do que um tipo de papai Noel, um morto fictício, para manter viva uma velha tradição. Não passa de um teatro, de uma farsa, própria para o tempo de carnaval. Entretanto, acredita nela, com toda boa fé, mais de 80% da assistência. Estes tem pouco ou quiçá nenhuma responsabilidade diante de Deus. Os chefes, os iniciados porém, conscientes do embuste tem a consciência onerada diante de Deus deles o juiz eterno exigirá um dia exata prestação de contas.
Alguns poucos sabidos da seita, os tais iniciados, conservam o sigilo com o máximo rigor, a fim de que a fraude dessa materialização dos ancestrais não chegue á luz do dia. Salta aos olhos do mais ingênuo a evidencia, de que sob aquelas vestes se ocultam poucos iniciados. Eis todo o segredo daquela materialização, que a poderosa sugestão, muitíssimas vezes repetidas através de muitas gerações, se encarrega de gravar indelevelmente no subconsciente daquela gente e que a ignorância e a ingenuidade mantém inviolável – a maior garantia para atingir a meta colimada é a total intangibilidade dos eguns, sob a ameaça terrível de morte imediata.
O outro expediente assegurador da sobrevivência dessa seita é a manutenção do segredo mais absoluto. Achamo-nos em face de uma seita secreta, cujos membros se obrigam, sob pena de morte, a não revelar algum segredo comprometedor. É em atenção a esse pacto de morte que não mostram aos visitantes ou estudiosos os aposentos reservados, o lado esotérico. É por isso que não admitem referentes a pontos secretos. É o temor de serem desmascarados na sua má fé ou quiçá ridicularizados.... Atribuível – talvez a esses fatores negativos é que dei pela ausência total do que poderíamos denominar de espírito de Deus. Era tudo pagão. Não havia ali nada de cristão. Não se ouviu nenhuma palavra, nenhuma alusão a honrar, amar, servir, e obedecer a Deus, estímulos de praticar o bem ou a caridade, NADA DISSO.

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