PRIMEIRO
QUADRO;- no velório do jovem que morreu em acidente de moto, sucediam-se as
visitas. No rosto de todos estavam estampadas a incredulidade, a surpresa e a
dolorosa pergunta;- porque? Ao lado do corpo do filho, desconsolada, a mãe
recebia a solidariedade de parentes e amigos. A presença silenciosa e o abraço
eram os gestos mais frequentes e expressivos. Não faltou contudo, a quase
sempre desastrada tentativa do consolo verbal. Dessa vez partiu de uma vizinha
loquaz;- O que fazer, não? Era o destino dele!
Segundo quadro;- todos os esforços
feitos para manter o casal unido foram inúteis. Tanto ele como ela estavam
convictos de ter a verdade, toda a verdade, a seu lado. Como, então, ceder? Se
ele aceitasse as condições impostas, até que concordaria em continuarem juntos,
Pelo Bem Dos Filhos, pensava ela. Se ela deixasse de ser tão teimosa, mudasse
sua maneira de ser, ele continuaria em casa, pensava ele. Ninguém cedeu e a
separação foi inevitável. Espalhada a notícia, logo alguém observou;- O destino
quis que eles se separassem!
Terceiro quadro;- comentando sua
reprovação no vestibular, o jovem se autoconsolou;- O destino não quis que eu
passasse! Afinal, o que é o destino? Existe mesmo esta força cega, inexorável e
cruel que determina acontecimentos e espalha decepções? Será a vida um jogo de
cartas marcadas, sem muita graça portanto, que transforma todo mundo num grupo
de marionetes? Tem o homem algum poder sobre sua vida e sobre sua história, ou
deve mesmo cruzar os braços, uma vez que não consegue transformar os
acontecimentos?
Não existe o destino! Se existisse, não
haveria liberdade. Sem liberdade, não haveria culpabilidade, porque nada mais
seríamos do que instrumentos nas mãos de uma força fatal. Precisamos
reconhecer, é verdade, que há situações, estruturas e limitações que
condicionam o homem, diminuindo sua liberdade. É preciso superá-las, para que
se consiga fazer a História e mudar o rumo dos acontecimentos.
Mais;- há forças físicas, psíquicas
e econômicas que, mal usadas, dão origem á dor, ao desespero, á fome e á
miséria. Além de tudo isso, é preciso considerar a capacidade que temos de
errar e de espalhar o mal ao nosso redor. Vejamos alguns exemplo;- se uma
criança se queima ao brincar com uma caixa de fósforos que estava ao alcance de
suas mãos, o fato aconteceu não porque esse era seu destino, mas porque alguém
se descuidou deixando aquela caixa em lugar acessível. O casal que foi
atropelado em frente á casa por um motorista que corria a 120 K. por hora não
morreu porque esse era seu destino, mas por causa da imprudência do motorista.
Os jovens que foram assassinados por
um ex-combatente de guerra enquanto conversavam numa lanchonete não estavam
destinados a morrer naquela hora. O soldado é que estava mentalmente
desequilibrado. E o que dizer de milhões de pessoas que morrem diariamente de
fome, ao mesmo tempo em que recursos cada vez maiores são destinados á
fabricação de armamentos ou a obras inúteis?
Culpa de um destino cego ou da falta de bom
senso humano? Os exemplos poderiam ser multiplicados. Todos – no entanto,
mostram a necessidade de revalorizarmos nossas decisões e nossos atos. Está na
hora de assumirmos a responsabilidade que nos compete. Colhemos o que
plantamos. Se continuarmos plantando egoísmo – imprudência – e maldade, os
frutos continuarão a ser os que já conhecemos.
Nem sempre é fácil espalhar amor,
bondade e dedicação. São gestos assim, contudo, que danificam a vida do ser
humano sobre a terra, fazendo nascer a alegria, a paz e a fraternidade.
Quem tem consciência dessa
responsabilidade procura construir a vida. Os acomodados apenas reclamam, se
desculpam e põem a culpa de tudo no destino.
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