A obediência dá forças e
frutos.
Necessidade desta
virtude para quem quer seguir Cristo de perto.
Não impor limites ao
querer de Deus.
Jesus
estava junto do lago de Genesaré com uma grande multidão que desejava ouvir a
Palavra de Deus. Pedro e os seus companheiros de trabalho lavavam as redes
depois de terem labutado uma noite inteira sem pescar nada. E Jesus, que queria
meter-se a fundo na alma de Pedro, entrou na sua barca e pediu-lhe que a
afastasse um pouco da margem. E, sentado, ensinava da barca a multidão!
Enquanto escutava o mestre, a quem já conhecia desde que seu irmão André o
levava até Ele, talvez Pedro tivesse continuado com a tarefa de deixar os
apetrechos de pesca, sem suspeitar dos planos grandiosos do Senhor.
Quando acabou de falar, Jesus disse
a Simão, - guia mar adentro e lançai as vossas redes para a pesca. Tudo
convidava a desculpa;- o cansaço, que é maior quando não se pescou nada, as
redes já lavadas e preparadas para a noite seguinte, a inoportunidade da hora
para a pesca. Mas o olhar de Jesus, o tom imperativo e ao mesmo tempo amável
com que deu a ordem, a enorme atração que Cristo exerce sobre as almas nobres,
levaram Pedro a fazer-se ao lago novamente. O único motivo porque o fez foi
Jesus;- Mestre estivemos trabalhando durante toda a noite e nada pescamos, mas,
sob a tua palavra, lançarei as redes. Sob a tua palavra. Essa foi a grande
razão.
Em muitas ocasiões, quando aparece
essa fadiga peculiar que resulta de não vermos frutos na vida interior ou na
ação apostólica, quando nos parece que tudo foi um fracasso e nos assaltam
raciocínios humanos que nos pretendem convencer a abandonar a tarefa, devemos
ouvir a voz de Jesus que nos diz;- Duc in altum, guia mar adentro, recomeça,
torna a tentar...em meu nome.
Que poder o da obediência! O lago de
Genesaré negava os seus peixes ás redes de Pedro. Toda uma noite em vão. Agora,
obediente, tornou a lançar a rede á água e pescaram uma grande quantidade de
peixes. Acredita;- - o milagre repete-se todos os dias. Se alguma vez nos
encontramos cansados e sem forças para recomeçar, olhemos para o Senhor que nos
acompanha nesta nossa barca. Jesus convida-nos então a pôr em prática, com
docilidade interior, com empenho, esses conselhos que recebemos na confissão,
na direção espiritual, certos de que recuperaremos as forças. Muitas vezes –
diz Santa Teresa parecia-me não sofrer o trabalho conforme a minha baixeza
natural. Disse-me o Senhor;- Filha a obediência dá forças.
Pedro fez-se ao lago com Jesus na
barca, e em breve percebeu que as redes se enchiam de peixes;- tantos, que
parecia que iam rompê-las. E fizeram sinais aos companheiros da outra barca
para que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram as duas barcas – tanto que
se afundavam. Houve peixe para todos;- Deus sempre recompensa a obediência com
frutos sem conta. Esta passagem do Evangelho está cheia de ensinamentos;-
durante a noite, na ausência de Cristo, o trabalho havia sido estéril. O mesmo
acontece na vida dos Cristãos, quando querem compreender tarefas apostólicas
sem contar com o Senhor, em plena escuridão, deixando-se levar unicamente pela
sua experiência ou por esforços demasiado humanos.
Empenhas-te em andar sozinho,
fazendo a tua própria vontade, guiado exclusivamente pelo teu próprio juízo, e,
bem vês! O fruto chama-se infecundidade.
Filho, se não abates o teu juízo, se és soberbo, se te dedicas ao teu
apostolado, trabalharás durante toda a noite- toda a tua vida será uma noite! E
no fim amanhecerás com as redes vazias.
Pedro mostrou-se humilde ao obedecer
á voz de quem, por não ser homem de mar, bem se poderia pensar que pouco ou
nada sabia daquele trabalho em que ele, Simão, tinha adquirido tanta
experiência e saber ao longo dos anos. Fia-se, no entanto, do Senhor, tem mais
confiança na palavra de Jesus do que nos anos de faina pesqueira. Esta
obediência e confiança nas palavras de Jesus acabaram de preparar Pedro para
receber a sua chamada definitiva. Foi como se o Senhor só tivesse querido chamá-lo
para sempre depois de obter dele um ato de obediência e de confiança plena.
Para quem quer ser discípulo de
Cristo, a necessidade da obediência não resulta em considerações de
conveniência ou de eficácia, mas de que a obediência faz parte do mistério da
redenção, pois o próprio Cristo revelou seu mistério e levou a cabo a redenção
por meio da sua obediência. Quem quiser seguir os passos de Jesus não pode,
pois, pôr limites á sua obediência;- o Senhor quer que lhe obedeçamos no fácil
e no heróico – como Ele próprio o fez;- obedeceu em coisas gravíssimas e
dificílimas;- até a morte de cruz.
A obediência leva-nos a querer
identificar em tudo a nossa vontade com a vontade de Deus, que nos é dada a
conhecer através dos pais,dos superiores, dos deveres que nos são impostos
pelos afazeres familiares, sociais e profissionais. Numa palavra – leva-nos a
uma submissão alegre e delicada ás disposições da autoridade legítima nas
diversas ordens da vida humana, principalmente ao Papa e ao Magistério da
igreja. E no que se refere á alma, leva-nos de modo muito particular a ser
dóceis aos conselhos recebidos na confissão e na direção espiritual. Quando
permanecemos com Cristo, Ele sempre enche de peixes abundantes as nossas redes.
Junto Dele, até o que parecia estéril e sem sentido torna-se eficaz e frutuoso.
A obediência torna meritórios os nossos atos e sofrimentos, de tal forma que,
por mais inúteis que estes últimos venham a parecer-nos, podem chegar a ser
muito fecundos.
Uma das maravilhas realizadas por
Nosso Senhor foi ter tornado proveitosa a coisa mais inútil que existe na face
da terra;- a dor. Ele a glorificou mediante a obediência e o amor. Pedro ficou
assombrado com a pesca. Neste milagre, o Senhor manifestou-se muito
particularmente a ele. O Apóstolo olhou para Jesus e lançou-lhe aos seus pés,
dizendo-lhe;- AFASTA-TE DE MIM, QUE SOU UM HOMEM PECADOR. COMPREENDEU SUA
PEQUENEZ DIANTE DA SUPREMA DIGNIDADE DE CRISTO. Jesus disse-lhe;- NÃO TEMAS,
DORAVANTE SEREIS PESCADORES DE HOMENS. Pedro e os que o haviam acompanhado na
pesca, atracando as barcas, deixaram tudo e seguiram-no.
Jesus começou por pedir-lhe que lhe
cedesse a barca, e acabou por ficar com a sua vida. E Pedro haveria de deixar
atrás de si uma marca inesquecível em tantas almas que o próprio Cristo poria
ao seu alcance. Começou por obedecer num pequeno pormenor e o Senhor
manifestou-lhe os grandiosos planos que tinha para ele, pobre pescador da
Galiléia, desde toda a eternidade. Nunca teria podido suspeitar da
transcendência e do valor da sua vida. Milhões e milhões de pessoas acenderiam
a sua fé na daqueles que seguiram Jesus naquele dia, e muito particularmente na
de Pedro, que seria a rocha, o fundamento inamovível da Igreja.
Nós também não podemos imaginar as
conseqüências da nossa fidelidade em seguir as pegadas de Cristo. O Senhor
pede-nos cada vez mais correspondência, mais docilidade e mais obediência ao
que nos vai manifestando de muitas maneiras. E, se formos fiéis, um dia
far-no-á contemplar a transcendência do nosso seguimento com obras;- se
corresponderes á chamada que o Senhor te fez, a tua vida – a tua pobre vida! –
deixará na história da humanidade um sulco profundo e largo, luminoso e
fecundo, eterno e divino.
Não ponhamos limites ao Senhor, tal
como Pedro não os pôs;- SE ÉS HOMEM DE MAR ALTO, AGARRA COM FIRMEZA O TEU LEME.
SE TE DÁS A DEUS DÁ-TE COMO OS SANTOS SE DERAM. QUE NADA PRENDA A TUA ATENÇÃO E
TE DESVIE DA MARCHA QUE EMPREENDESTES;- ÉS DE DEUS. SE TE DÁS, DÁ-TE PARA A
ETERNIDADE. NEM AS VAGAS NEM A RESSACA ABALARÃO OS TEUS ALICERCES. DEUS
APÓIA-TE EM TI;- METE TAMBEM OMBROS AO TRABALHO, E NAVEGA CONTRA A CORRENTE.
LANÇA-TE ÁS ÁGUAS COM A AUDÁCIA DOS ÉBRIOS DE DEUS.
A
NOSSA MÃE SANTA MARIA, STELLA MARIS, ESTRELA DO MAR, ENSINAR-NOS-Á A SER
GENEROSOS COM O SENHOR QUANDO NOS PEDIR EMPRESTADA UMA BARCA E DEPOIS QUISER
QUE LHE DEMOS A VIDA INTEIRA.
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