A certeza de que Deus perdoa sempre os
nossos pecados não seria um motivo para voltar a pecar? Pode
ser que a facilidade de obter a absolvição dos seus pecados na confissão
enfraqueça em algumas pessoas a decisão de resistir ás tentações. Basta
confessar-me e tenho a garantia de ser perdoado. Então posso pecar de novo. Mas
quem pensa assim não compreendeu o que é pedir e receber o perdão de Deus. A
confissão e a absolvição não são um rito mágico para livrar-me automaticamente
do peso de minhas culpas. Para entender o que é pecado e perdão, é preciso
superar essa idéia infantil de nossa relação com Deus. Para quem tem fé ele é
uma pessoa presente na nossa vida, que nos oferece a sua amizade. Pelo batismo
cada um de nós, ou nossos padrinhos em nosso lugar, aceitou este oferecimento
com a promessa de ser fiel a essa amizade. Mas ao longo da vida podemos manter
ou quebrar as promessas do batismo. Podemos agradar a Deus, fazendo o que nos pede.
Mas podemos viver como se Deus não existisse, sem ligar para ele, sem
reconhecer que nossa vida e tudo o que temos de bom são presentes dele.
Pecar não é
simplesmente cometer um erro, uma desonestidade, falhar no propósito de ser
íntegro, fazendo uma coisa indigna que vai contra a própria consciência. O
pecado não atinge só a própria pessoa. Quem peca está antes de tudo rejeitando
a amizade de Deus;- prefere seguir os próprios gostos e interesses, sem se
importar de desagradar a quem ama. Mas se nós deixamos muitas vezes de ser
fiéis a Deus, ele mantém-se sempre fiel ao seu amor por nós. Sabe que longe
dele não encontramos senão tristeza e angústia. Por isso continua a
oferecer-nos a sua amizade e o seu perdão. Converter-se significa voltar-se de
novo para Deus, acreditando no seu amor sem limites, aceitando o seu perdão.
Significa arrepender-se de ter ferido o coração de Deus, sendo ingrato e infiel
ao seu amor. Por isso a igreja ensina que a confissão não é válida sem o
arrependimento sincero e o propósito firme de não mais pecar.
A conversão implica, portanto, uma verdadeira mudança na
pessoa. E sem conversão Deus não pode perdoar-nos. Não porque não quer ser
nosso amigo, mas porque não nos interessa a reconciliação. Se não pretendemos
evitar o que ofende gravemente o nosso amigo, é porque não queremos a sua
amizade. Quem se converte para Deus e pede sinceramente perdão, não vai
pretender continuar a pecar, confiando que Deus não lhe recusará o seu perdão.
Ao contrário, a certeza de que Deus não lhe recusará jamais o seu perdão. Ao
contrário, a certeza de que Deus é assim tão bom, tão amigo, tão fiel, é um
motivo a mais para evitar ofendê-lo, para procurar agradá-lo em tudo.
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