segunda-feira, 6 de novembro de 2017

CRISTO EXTRAÍA SABEDORIA DA SUA MISÉRIA;- AUGUSTO CURY. LIVRO O MESTRE DOS MESTRES.


 
            Cristo estava sempre conduzindo as pessoas a reescreverem suas histórias e a não serem vítimas das intempéries sociais e dos sofrimentos que viviam. Ele se preocupava com o desenvolvimento das funções mais altruístas da inteligência. Desejava que as pessoas tivessem domínio próprio, administrassem os pensamentos e aprendessem a trafegar nas avenidas da perseverança diante das dificuldades da vida. Jesus foi ofendido diversas vezes, porém sabia proteger a sua emoção. Alguns fariseus diziam que ele era o principal dos demônios. Para alguém que se colocava como o Cristo – essa ofensa era muito grave. Mas as ofensas não o atingiam. Somente uma pessoa forte e livre é capaz de refletir sobre as ofensas e não ser ferida por elas. Ele era forte e livre em seus pensamentos, por isso podia dar respostas excepcionais em situações em que dificilmente havia espaço para pensar, em situações em que facilmente a ira nos invadiria.

            Nem mesmo a possibilidade de ser preso e morto a qualquer momento parecia perturbá-lo. Ele transcendia as circunstâncias que normalmente nos sobrecarregariam de ansiedade. Tinha muitos opositores, todavia manifestava com ousadia seus pensamentos em público. Tinha todos os motivos para sofrer de insônia, contudo não perdia noite de sono, dormindo até em situações turbulentas. Certa vez, os discípulos, que sendo pescadores eram especialistas em mar, ficaram intensamente apavorados diante de uma grande turbulência marítima. Enquanto eles estavam desesperados, Cristo dormia. Ele não era pescador nem estava acostumado a viajar de barco. Quem não está habituado a navegar costuma sentir enjoo na viagem, principalmente se o mar estiver agitado. Desesperados, os discípulos o despertaram. Acordado, ele censurou o medo e a ansiedade deles e com um gesto acalmou a tempestade. Os discípulos, mais uma vez intrigados, perguntavam entre si;- quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem...? o que quero enfatizar aqui não é o ato sobrenatural de Cristo, mas a tranquilidade que demonstrava diante das situações em que o desespero imperava.

            Ele agia serenidade quando todos ficavam apavorados. Preservava sua emoção das contrariedades. Muitos fazem de suas emoções um depósito de lixo. Não filtram os problemas, as ofensas, as dificuldades por que passam. Pelo contrário, elas os invadem com extrema facilidade, gerando angústia e estresse. Todavia, Cristo não se deixava invadir pelas turbulências da vida. Ele administrava a sua emoção com exímia habilidade, pois filtrava os estímulos angustiantes, estressantes.

            Não apenas o medo não fazia parte do seu dicionário da vida, mas também o desespero, a ansiedade, a insegurança e a instabilidade. Os discípulos contemplavam seu mestre atenta e embevecidamente e assim, pouco a pouco, aprendiam com ele a ser fortes e livres interiormente, bem como seguros, tranquilos e estáveis nas situações tensas.

            Todos elogiam a primavera e esperam ansiosamente por ela, pois pensam que as flores surgem nessa época do ano. Na realidade, as flores surgem no inverno, ainda que clandestinamente, e se manifestam na primavera. A escassez hídrica, o frio e a baixa luminosidade do inverno, castigam as plantas, levando-as a produzir metabolicamente as flores que desabrocharão na primavera. As flores contêm as sementes, e as sementes nada mais são que uma tentativa de continuação do ciclo da vida das plantas diante das intempéries que atravessam no inverno. O caos do inverno é responsável pelas flores da primavera.

            Ao analisar a história de Cristo, fica claro que os invernos existenciais pelos quais ele passava não o destruíam, pelo contrário, geravam nele uma bela primavera existencial, manifesta em sua sabedoria, amabilidade, tranquilidade, tolerância, capacidade de compreender e superar os conflitos humanos.

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