Cristo estava sempre conduzindo as
pessoas a reescreverem suas histórias e a não serem vítimas das intempéries
sociais e dos sofrimentos que viviam. Ele se preocupava com o desenvolvimento
das funções mais altruístas da inteligência. Desejava que as pessoas tivessem
domínio próprio, administrassem os pensamentos e aprendessem a trafegar nas
avenidas da perseverança diante das dificuldades da vida. Jesus foi ofendido
diversas vezes, porém sabia proteger a sua emoção. Alguns fariseus diziam que
ele era o principal dos demônios. Para alguém que se colocava como o Cristo –
essa ofensa era muito grave. Mas as ofensas não o atingiam. Somente uma pessoa
forte e livre é capaz de refletir sobre as ofensas e não ser ferida por elas.
Ele era forte e livre em seus pensamentos, por isso podia dar respostas
excepcionais em situações em que dificilmente havia espaço para pensar, em
situações em que facilmente a ira nos invadiria.
Nem mesmo a possibilidade de ser
preso e morto a qualquer momento parecia perturbá-lo. Ele transcendia as
circunstâncias que normalmente nos sobrecarregariam de ansiedade. Tinha muitos
opositores, todavia manifestava com ousadia seus pensamentos em público. Tinha
todos os motivos para sofrer de insônia, contudo não perdia noite de sono,
dormindo até em situações turbulentas. Certa vez, os discípulos, que sendo
pescadores eram especialistas em mar, ficaram intensamente apavorados diante de
uma grande turbulência marítima. Enquanto eles estavam desesperados, Cristo
dormia. Ele não era pescador nem estava acostumado a viajar de barco. Quem não
está habituado a navegar costuma sentir enjoo na viagem, principalmente se o
mar estiver agitado. Desesperados, os discípulos o despertaram. Acordado, ele
censurou o medo e a ansiedade deles e com um gesto acalmou a tempestade. Os
discípulos, mais uma vez intrigados, perguntavam entre si;- quem é este que até
o vento e o mar lhe obedecem...? o que quero enfatizar aqui não é o ato
sobrenatural de Cristo, mas a tranquilidade que demonstrava diante das
situações em que o desespero imperava.
Ele agia serenidade quando todos
ficavam apavorados. Preservava sua emoção das contrariedades. Muitos fazem de
suas emoções um depósito de lixo. Não filtram os problemas, as ofensas, as
dificuldades por que passam. Pelo contrário, elas os invadem com extrema
facilidade, gerando angústia e estresse. Todavia, Cristo não se deixava invadir
pelas turbulências da vida. Ele administrava a sua emoção com exímia
habilidade, pois filtrava os estímulos angustiantes, estressantes.
Não apenas o medo não fazia parte do
seu dicionário da vida, mas também o desespero, a ansiedade, a insegurança e a
instabilidade. Os discípulos contemplavam seu mestre atenta e embevecidamente e
assim, pouco a pouco, aprendiam com ele a ser fortes e livres interiormente,
bem como seguros, tranquilos e estáveis nas situações tensas.
Todos elogiam a primavera e esperam
ansiosamente por ela, pois pensam que as flores surgem nessa época do ano. Na
realidade, as flores surgem no inverno, ainda que clandestinamente, e se
manifestam na primavera. A escassez hídrica, o frio e a baixa luminosidade do
inverno, castigam as plantas, levando-as a produzir metabolicamente as flores
que desabrocharão na primavera. As flores contêm as sementes, e as sementes
nada mais são que uma tentativa de continuação do ciclo da vida das plantas
diante das intempéries que atravessam no inverno. O caos do inverno é
responsável pelas flores da primavera.
Ao analisar a história de Cristo,
fica claro que os invernos existenciais pelos quais ele passava não o
destruíam, pelo contrário, geravam nele uma bela primavera existencial,
manifesta em sua sabedoria, amabilidade, tranquilidade, tolerância, capacidade
de compreender e superar os conflitos humanos.
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