Aconteceu numa noite decisiva de
sexta-feira, no começo da primavera, quando eu estava colocando no lugar a
tábua em que me ajoelhava para o exame de consciência noturno. Com toda a
instantaneidade e os solavancos de um ataque do coração, fui tomado pela
consciência experiencial da presença de Deus dentro de mim. Dizem que ninguém
consegue transmitir uma experiência para outra pessoa, que só consegue
comunicar os reflexos da experiência. Tenho certeza de que é verdade. Só
consigo dizer, ao tentar compartilhar minha experiência com você, que me senti
como um balão estourando de puro prazer com a presença amorosa de Deus, intenso
a ponto de me provocar desconforto e a dúvida de conseguir suportar esse êxtase
súbito por mais um momento sequer. Pensei na música (He touched me) como a
forma mais apropriada de descrever a experiência daquela noite. Estou
convencido de que todas as experiências humanas, mas em particular a
experiência de um Deus infinito, são fundamentalmente incomunicáveis. De certo modo,
Deus sempre vai além das periferias de nossa compreensão humana. Exatamente por
ser infinito, nunca pode ser focalizado por uma inteligência humana finita. De
certa forma, nossas passagens de raspão por esse infinito não têm como se
encaixar em palavras ou conceitos finitos. Só posso lhe dizer que (He touched
me) (e nada mais era a mesma coisa de antes). Se existe um período de lua de
mel na realção das pessoas com Deus, o meu foi o ano seguinte. Houve repetidos
(toques) – sempre num momento inesperado, sempre fantástico e sempre
incrivelmente cálidos. No decorrer desse ano, li pela primeira vez o poema de
Gerard Manley Hopkins, The Wreck of the Deutschland. Descobri nele as palavras
de um poeta dizendo o que eu estava vivenciando;-
Enquanto me criáveis, Senhor! Vós,
que insuflais vida e dais o pão,
Corrente
do mundo, balanço do mar! Senhor dos vivos e mortos. Ligaste em mim ossos e
veias, firmastes a carne em mim.
E depois de quase acabado, com que
terror,
Vosso
feito, e me tocais de novo? Mais uma vez sinto vossa mão e vos encontro. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário