quinta-feira, 10 de agosto de 2017

PECADORES, SIM. CORRUPTOS, NÃO! PAPA FRANCISCO.


 
 

            NA BULA DE PROCLAMAÇÃO DO ANO SANTO DA MISERICÓRDIA, O SENHOR ESCREVEU;- SE DEUS SE DETIVESSE NA JUSTIÇA DEIXARIA DE SER DEUS;- SERIA COMO TODOS OS HOMENS QUE INVOCAM O RESPEITO Á LEI. A JUSTIÇA SOZINHA NÃO BASTA, E A EXPERIÊNCIA ENSINA QUE QUANDO SE APELA SOMENTE A ELA CORRE-SE O RISCO DE DESTRUÍ-LA. QUE RELAÇÃO EXISTE ENTRE MISERICÓRDIA E JUSTIÇA? No livro da sabedoria (12, 18-19), lemos;- no entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência. Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano. E a teus filhos deste a confortadora esperança de que, depois dos pecados, concedes o arrependimento. A misericórdia é um elemento importante, aliás, indispensável nas relações entre os homens, para que haja fraternidade. Apenas a medida da justiça não basta. Com a misericórdia e o perdão, DEUS vai além da justiça, a inclui e a supera numa dimensão superior na qual se experimenta o amor, que é o fundamento de uma verdadeira justiça.

            A misericórdia também tem valor civil? Que repercussão pode ter na vida social? Sim, ela tem. Pensemos no Piemonte do fim do século XIX, Nas Casas de misericórdia, nas Santas Casas, nos Santos da Misericórdia, no Cotolengo, Dom Bosco – o Cotolengo com os enfermos, Dom Cafasso, acompanhava os condenados a forca. Pensemos no que significa hoje a obra iniciada pela beata MADRE TERESA DE CALCUTÁ, algo que vai contra todos os cálculos humanos;- dar a vida para ajudar os idosos e os doentes, ajudar os mais pobres entre os pobres a morrer dignamente numa cama limpa. Isto vem de DEUS. O cristianismo assumiu a herança da tradição hebraica, o ensinamento dos profetas sobre a proteção do órfão, da viúva e do estrangeiro. A misericórdia e o perdão são importantes, mesmo nas relações sociais e nas relações entre os ESTADOS.

            São João Paulo II – na mensagem da JORNADA MUNDIAL DA PAZ EM 2002, após os ataques terroristas nos ESTADOS UNIDOS, afirmou que não há justiça sem perdão e que a capacidade de perdão está na base de cada projeto de uma sociedade futura mais justa e solidária. A ausência de perdão e o fazer justiça com as próprias mãos, OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE, arriscam a alimentar uma espiral de conflitos sem fim.

            Posso lhe perguntar como se conjuga a justiça terrena com a misericórdia, sobretudo nos casos de quem se manchou com graves culpas e crimes terríveis? Mesmo na justiça terrena, nas normas jurídicas, está surgindo uma nova consciência. Já citamos em outro momento desta conversa a regra IN DUBIO PRO REO. Pensemos no quanto cresceu a consciência mundial na rejeição da pena de morte.

Pensemos no quanto se está tentando fazer pela reintegração social dos presos, para que quem errou, após pagar sua dívida com a justiça, possa encontrar mais facilmente um trabalho e não ficar á margem da sociedade. Usei uma cruz pastoral de madeira de oliveira, feita por uma oficina de carpintaria que faz parte de um projeto de reintegração de presos e ex-dependentes químicos. Tenho conhecimento de algumas iniciativas positivas de trabalho dentro dos presídios.

A misericórdia divina contagia a humanidade. Jesus era DEUS, mas também era homem, e na sua pessoa encontramos também a misericórdia humana. Com a misericórdia, a justiça é mais justa, realiza-se realmente a si mesma. Isso, porém, não significa ser condescendente, no sentido de escancarar as portas das prisões para quem cometeu crimes graves.

            Significa que devemos ajudar a não permanecer por terra aqueles que caíram. É difícil colocar isso em prática, porque ás vezes preferimos trancar alguém numa prisão por toda a vida em vez de tentar recuperá-lo, ajudando-o a se reintegrar na sociedade. Deus perdoa tudo, oferece uma nova possibilidade a todos, concede a sua misericórdia a todos que a pedem. Somos nós que não sabemos perdoar.

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