No evangelho de marcos a
fragmentação do ser humano é descrita como a dilaceração do ser que é puxado de
um lado a outro pelos demônios. Esses demônios são imagens de forças internas e
externas que dilaceram o ser humano. Os demônios podem ser co-atores, que nos
coagem a fazer algo que não queremos fazer. Os demônios podem ser espíritos
sombrios, emoções que enuviam nossos pensamentos, que colocam nossos
pensamentos contra nossos sentimentos. Os demônios também podem ser espíritos
do mundo, imagens para os padrões de pensamento da sociedade, que nos mantêm
presos. Marcos descreve sempre como os demônios dilaceram o ser humano, puxando-o
de uma lado a outro. Quando Jesus cura as pessoas, liberta-as do poder dos
demônios, guiando-as para seu verdadeiro eu, possibilitando-lhes que sejam
novamente unas e inteiras. Por isso quero apresentar, do ponto de vista
psicológico profundo, três histórias de cura do evangelho de marcos, para que
possamos encontrar-nos em Jesus Cristo novamente e ao mesmo tempo ter
esperanças de que hoje também ele possa curar nossa fragmentação.
Puxado de um lado a outro;- na
primeira história de cura Jesus exorta o demônio a sair do homem. O espírito
impuro puxou o homem de um lado a outro e o abandonou com fortes gritos. A
palavra grega (sparasso) quer dizer;- puxar- rasgar- esfolar- dilacerar-
arrancar os cabelos. É um espírito impuro, que nos fragmenta, nos dilacera, e
nos puxa de um lado a outro. Esse espírito impuro enuvia nossos pensamentos.
Para marcos esses espíritos impuros não são tão inofensivos. Eles nos dominam e
nos roubam a liberdade.não nos deixam decidir livremente aonde queremos ir.
Eles nos enviam para um lado, depois outro, e não nos deixam encontrar nosso
centro. Provavelmente o homem nem sabia que tinha um espírito impuro. Só quando
Jesus falou com todo o seu poder, quando falou de Deus, tornando a realidade de
Deus uma experiência palpável por meio de suas palavras, é que o espírito
impuro foi puxado para a luz. Então ele não pôde mais se esconder atrás da
fachada desse homem. Passamos freqüentemente por essa experiência.
Adaptando-nos a nossos pensamentos. Achamos que estamos corretamente posicionados,
até que de repente uma palavra nos atinge. Não podemos mais nos esquivar.
Precisamos posicionar-nos.
O espírito impuro inicia uma luta de poder contra Jesus.
Ele grita;- o que temos a ver com você, Jesus de Nazaré? Você veio para nos
atirar na perdição? Eu sei quem você é;- o Santo de Deus. Existem pessoas
prejudicadas pela terapia. Racionalmente elas conseguem dizer exatamente o que
lhes falta. Vão de um terapeuta a outro e contam a cada um deles a história de
seus sofrimentos. Conseguem dar nomes a seus complexos. Mas, com todo esse seu
conhecimento, afastam todos os que possam questioná-los. Não querem mudar nada,
querem apenas falar com desenvoltura sobre a própria doença. Na medida em que
dão um nome a sua doença, elas acham que adquirem poder sobre ela. Na medida em
que explicam o comportamento do terapeuta e decidem exatamente como ele deve
comportar-se, elas querem obter o poder sobre ele e pressioná-lo para dentro de
um determinado papel, para que ele não perturbe seu modo de pensar. Quando um
terapeuta aceita esse papel, a terapia está fadada ao fracasso. Jesus não
permite que esse papel lhe seja imposto. Ele exorta o espírito impuro, com
pleno poder;- cala-te e abandona-o! Jesus vê através das artimanhas do espírito
imundo. Não discute com ele, pois isso não levaria a nada. Exorta-o a se calar.
O silêncio rouba-lhe o poder. Quando doente não pode mais se esconder por trás
de suas palavras astutas, é obrigado a se conformar com a realidade. E Jesus
sabe diferenciar entre o homem e sua doeça, entre o homem e o espírito sombrio,
que o impede de pensar e decidir livremente sobre si mesmo. Ele o exorta;-
abandona-o ou sai dele,como na verdade se diz em grego. O demônio precisa sair
do homem, para que este possa novamente ser ele mesmo, inteiramente.
A possessão é um tipo funesto de unidade. Nesse caso
Jesus precisa eliminar a unidade, separar o homem do demônio, que se apega a
seu fascínio. É como uma luta de poder, que ocorre entre Jesus e o espírito
impuro. Este espírito precisa render-se. Mas ele continua a puxar o homem de um
lado a outro. Só então ele sai, com uma grande gritaria. Ás vezes precisamos
jogar para fora, com uma grande gritaria, tudo aquilo que nos feriu
profundamente e nos bloqueia o pensamento e a ação. Precisamos gritar para
expulsar a raiva reprimida, para que ela não possa mais aninhar-se dentro de
nós e nos paralisar. Precisamos gritar para expulsar o medo que nos persegue
desde a infância. Precisamos finalmente ousar dar os gritos de dor que nos
foram proibidos por tanto tempo. Então poderemos respirar na proximidade de
Jesus e nos erguer.
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No
tempo de São Sebastião os cristãos tinham a firme convicção;-
Se Cristo ressuscitou, todos nós
ressuscitaremos com ele. A morte já não é um fim, não é o ponto final e
definitivo. Ela foi superada
Tornou-se apenas uma
porta para a verdadeira vida.
Pedro
Cipolini.
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