quarta-feira, 8 de março de 2017

Fragmentação demoníaca;- Anselm Grün.


            No evangelho de marcos a fragmentação do ser humano é descrita como a dilaceração do ser que é puxado de um lado a outro pelos demônios. Esses demônios são imagens de forças internas e externas que dilaceram o ser humano. Os demônios podem ser co-atores, que nos coagem a fazer algo que não queremos fazer. Os demônios podem ser espíritos sombrios, emoções que enuviam nossos pensamentos, que colocam nossos pensamentos contra nossos sentimentos. Os demônios também podem ser espíritos do mundo, imagens para os padrões de pensamento da sociedade, que nos mantêm presos. Marcos descreve sempre como os demônios dilaceram o ser humano, puxando-o de uma lado a outro. Quando Jesus cura as pessoas, liberta-as do poder dos demônios, guiando-as para seu verdadeiro eu, possibilitando-lhes que sejam novamente unas e inteiras. Por isso quero apresentar, do ponto de vista psicológico profundo, três histórias de cura do evangelho de marcos, para que possamos encontrar-nos em Jesus Cristo novamente e ao mesmo tempo ter esperanças de que hoje também ele possa curar nossa fragmentação.
            Puxado de um lado a outro;- na primeira história de cura Jesus exorta o demônio a sair do homem. O espírito impuro puxou o homem de um lado a outro e o abandonou com fortes gritos. A palavra grega (sparasso) quer dizer;- puxar- rasgar- esfolar- dilacerar- arrancar os cabelos. É um espírito impuro, que nos fragmenta, nos dilacera, e nos puxa de um lado a outro. Esse espírito impuro enuvia nossos pensamentos. Para marcos esses espíritos impuros não são tão inofensivos. Eles nos dominam e nos roubam a liberdade.não nos deixam decidir livremente aonde queremos ir. Eles nos enviam para um lado, depois outro, e não nos deixam encontrar nosso centro. Provavelmente o homem nem sabia que tinha um espírito impuro. Só quando Jesus falou com todo o seu poder, quando falou de Deus, tornando a realidade de Deus uma experiência palpável por meio de suas palavras, é que o espírito impuro foi puxado para a luz. Então ele não pôde mais se esconder atrás da fachada desse homem. Passamos freqüentemente por essa experiência. Adaptando-nos a nossos pensamentos. Achamos que estamos corretamente posicionados, até que de repente uma palavra nos atinge. Não podemos mais nos esquivar. Precisamos posicionar-nos.
            O espírito impuro inicia uma luta de poder contra Jesus. Ele grita;- o que temos a ver com você, Jesus de Nazaré? Você veio para nos atirar na perdição? Eu sei quem você é;- o Santo de Deus. Existem pessoas prejudicadas pela terapia. Racionalmente elas conseguem dizer exatamente o que lhes falta. Vão de um terapeuta a outro e contam a cada um deles a história de seus sofrimentos. Conseguem dar nomes a seus complexos. Mas, com todo esse seu conhecimento, afastam todos os que possam questioná-los. Não querem mudar nada, querem apenas falar com desenvoltura sobre a própria doença. Na medida em que dão um nome a sua doença, elas acham que adquirem poder sobre ela. Na medida em que explicam o comportamento do terapeuta e decidem exatamente como ele deve comportar-se, elas querem obter o poder sobre ele e pressioná-lo para dentro de um determinado papel, para que ele não perturbe seu modo de pensar. Quando um terapeuta aceita esse papel, a terapia está fadada ao fracasso. Jesus não permite que esse papel lhe seja imposto. Ele exorta o espírito impuro, com pleno poder;- cala-te e abandona-o! Jesus vê através das artimanhas do espírito imundo. Não discute com ele, pois isso não levaria a nada. Exorta-o a se calar. O silêncio rouba-lhe o poder. Quando doente não pode mais se esconder por trás de suas palavras astutas, é obrigado a se conformar com a realidade. E Jesus sabe diferenciar entre o homem e sua doeça, entre o homem e o espírito sombrio, que o impede de pensar e decidir livremente sobre si mesmo. Ele o exorta;- abandona-o ou sai dele,como na verdade se diz em grego. O demônio precisa sair do homem, para que este possa novamente ser ele mesmo, inteiramente.
            A possessão é um tipo funesto de unidade. Nesse caso Jesus precisa eliminar a unidade, separar o homem do demônio, que se apega a seu fascínio. É como uma luta de poder, que ocorre entre Jesus e o espírito impuro. Este espírito precisa render-se. Mas ele continua a puxar o homem de um lado a outro. Só então ele sai, com uma grande gritaria. Ás vezes precisamos jogar para fora, com uma grande gritaria, tudo aquilo que nos feriu profundamente e nos bloqueia o pensamento e a ação. Precisamos gritar para expulsar a raiva reprimida, para que ela não possa mais aninhar-se dentro de nós e nos paralisar. Precisamos gritar para expulsar o medo que nos persegue desde a infância. Precisamos finalmente ousar dar os gritos de dor que nos foram proibidos por tanto tempo. Então poderemos respirar na proximidade de Jesus e nos erguer.
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No tempo de São Sebastião os cristãos tinham a firme convicção;-
            Se Cristo ressuscitou, todos nós ressuscitaremos com ele. A morte já não é um fim, não é o ponto final e definitivo. Ela foi superada          
                        Tornou-se apenas uma porta para a verdadeira vida.

                                               Pedro Cipolini.

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