quarta-feira, 8 de março de 2017

Morte na cruz;- Edith Stein.


 
            A purificação das faculdades espirituais como (via crucis)  e morte na cruz.

 

            O despojamento necessário para a união transformadora é levado a efeito no entendimento pela fé;- na memória pela esperança;- na vontade pelo amor. Quanto á fé, já dissemos que ela comunica ao entendimento um conhecimento certo, porém obscuro.; mostra Deus como luz inacessível, ser inconcebível e infinito, que está acima de toda a capacidade natural e, por isso mesmo, a fé reduz a razão ao nada, levando-a a reconhecer sua incapacidade diante da grandeza de Deus. a esperança esvazia a memória, levando-a a ocupar-se com algo que não possui. Porque o que alguém vê, como é que ainda espera? Ela nos ensina que devemos esperar tudo de Deus e nada de nós mesmos ou das criaturas;- ensina-nos que devemos aguardar de Deus a bem aventurança sem fim, e por isso, renunciar nesta vida a quaisquer gozos e a quaisquer posses. O amor, sem enfim, liberta a vontade de todas as coisas, obrigando-a a amar a Deus acima de tudo, o que só é possível se excluídos os desejos das coisas criadas. Já se disse que esse caminho de completo despojamento é o caminho estreito que somente poucos encontram;- é o caminho que conduz á alta montanha da perfeição e que só pode ser trilhado por quem estiver livre de qualquer peso que o arraste para baixo.

            É o caminho da cruz, para o qual o Senhor convida os seus discípulos;- se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará. O que se exige não é somente um certo isolamento e algum progresso numa ou noutra coisa, um pouco mais de oração e um tanto de mortificação, enquanto se conservam também certos prazeres e sensações, mesmo que espirituais. Os que com isso se contentarem recuarão assustados como diante da morte, quando se lhes apresentar algo do que é sólido e perfeito, como a aniquilação de toda a suavidade em Deus, aridez, tédio e trabalhos penosos. É nessa a pura cruz espiritual, e a nudez do espírito pobre, segundo Cristo.

            O respeito é, quando muito, buscar-se a si mesmo em Deus é buscar os dons e deleites de Deus;- mas buscar a Deus nele próprio é não só querer ver-se privado de tudo aquilo por Deus, mas inclinar-se a escolher alegremente, por Cristo, tudo quanto for mais amargo, seja em Deus, seja no mundo- este é o amor de Deus. Odiar sua vida, e por isso salvá-la, significa renunciar, por Cristo, a tudo quanto a vontade possa apetecer e saborear, escolhendo o que mais se parece com a cruz de Cristo. Beber o cálice do Senhor- significa morrer para a natureza, quer sensível, quer espiritual. Só assim se trilha o caminho estreito, pois nele não cabe mais que a abnegação e a cruz, a qual é o corrimão para subir, que muito alivia e suaviza a caminhada. É por isso que Jesus disse;- meu jugo é suave, e meu fardo é leve. Este fardo é a cruz;- porque se o homem se decide a sujeitar-se a carregar essa cruz, quer dizer, procura em tudo, por amor a Deus, as fadigas, e as toma sobre si alegremente, encontrará de fato grande alívio e doçura em todas as coisas e caminhará nesta completa renúncia sem desejar coisa alguma. As almas de vida espiritual deverão compreender que esse caminho de Deus não consiste na multiplicidade de meditações ou determinados exercícios ascéticos, ou deleites e gozos...- mas em uma só coisa necessária;- saber abnegar-se seriamente, no exterior e no interior, entregando-se ao sofrimento por Cristo, e aniquilando-se em tudo. Quem praticar tudo isso encontrará tudo, e mais do que aquela forma de agir, ao passo que, havendo falha nesse exercício, verá que todos os demais exercícios virtuosos são como andar e não avançar, ainda que pratique meditações e comunicações tão elevadas quanto as dos anjos. O caminho é Cristo. Tudo depende de entender bem e seguir o seu exemplo;- em primeiro lugar é certo que ele morreu;- tomado isso em sentido espiritual, morreu durante toda a sua vida para tudo aquilo que se refere aos sentidos e, tomado em sentido natural, em sua morte carnal (real) morreu para tudo. Pois, como ele mesmo disse;- o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.

            Segundo, é certo que á hora da morte ele esteve também completamente abandonado no íntimo da alma, sem consolo ou alívio algum, deixando-o o Pai assim, em íntima aridez da esfera sensível – motivo porque necessitou clamar, dizendo;- MEU DEUS, MEU DEUS, PORQUE ME ABANDONESTES?  Este foi o maior desamparo sensível que chegou a experimentar em sua vida;- e assim, por meio dele, realizou a maior obra de sua vida, maior do que aquelas que havia realizado em sinais e milagres...- reconciliou e uniu o gêneo humano a Deus, pela graça. E isso aconteceu, no ponto exato em que o Senhor esteve mais aniquilado em tudo;- tanto na consideração dos homens que, vendo-o morrer na cruz, antes zombavam dele...- como em sua natureza, onde se aniquilava morrendo;- e ainda, quanto ao amparo e consolo do Pai, que nesse momento o desamparou para que por si próprio pagasse a divida e unisse o homem a Deus...

            Tomando tudo isso em consideração, é de esperar que a alma verdadeiramente espiritual entenda o mistério da porta estreita e do caminho de Cristo para se unir a Deus, e saiba que, quanto mais se aniquila por Deus, sensível e espiritualmente, tanto mais se une a ele e tanto maior a obra que ele faz. E quando vier a ficar reduzida ao nada, o que constitui a suprema humilhação, estará realizada a união espiritual entre a alma e Deus, o mais alto estado a que nesta vida se pode chegar. Essa união não consiste, pois, em recreações, gozos e sensações espirituais, mas NUMA VIVA MORTE DE CRUZ, SENSÍVEL E ESPIRITUAL, INTERIOR E EXTERIOR.        -------------------------------------------------------------------

REFLEXÃO PARA A QUARESMA;- depois de  tua cruz, nenhum sofrimento ou injustiça humana é indiferente a Deus, pois seu próprio filho os padeceu. Ninguém nesta vida pode dizer que foi abandonado em sua dor, porque Jesus caminha adiante, e revive em cada cruz seu sacrifício e entrega. Apesar disso, meu Deus, como me é custosa a minha cruz, como me custa a cruz dos meus irmãos! Quisera desde já acabar com todo o mal dentro e fora de mim, mas tenho de conviver com ele até que venhas e me julgues, até que a luz seja plena e o amor seja uma realidade visível para todos.

                        Os pagãos, os que não te conhecem, não sabem que têm um Pai que deles se ocupa, é esta a grande diferença. Levanto meus olhos para falar-te como uma criança;- abaixo meu olhar para encontrar-te como pecador, abro meus braços para abraçar-te, beijar-te, e te chamar;- PAI, MEU BOM PAI. E ME DEIXO ABRAÇAR-TE POR TI. ASSIM É QUE POSSO REZAR O pai nosso, QUE EMBORA O RECITE DE COR, RENOVA MINHA CONFIANÇA E SERENIDADE.       AMÉM. 

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