quarta-feira, 8 de março de 2017

QUARESMA – EDITH STEIN. (REFLEXÕES E APRIMOREMENTO ESPIRITUAL).


            Já se havendo exercitado por algum tempo no caminho da virtude, perseverando na meditação e na oração, nas quais com o gosto e o deleite que aí encontraram, desapegaram-se das coisas do mundo e adquiriram algumas forças espirituais em Deus ( com as quais ficaram um tanto refreados os desejos das criaturas e já poderão sofrer em Deus um pouco de peso e aridez sem voltar atrás ao melhor tempo, quando se achavam mais á vontade nesses exercícios espirituais) – é então que Deus lhes escurece toda essa luz e lhes fecha a porta, privando-lhes do manancial da doce água espiritual que andavam saboreando em Deus...- todas as vezes e por todo o tempo que lhes apetecesse, deixando-os tão ás escuras que não sabem para onde dirigir a faculdade da imaginação e o pensamento.
            Todas as práticas de piedade lhe parecem agora insípidas e enfadonhas. E não se trata aqui da conseqüência de pecados e imperfeições, mas da aridez purificadora da noite escura, como veremos por três sinais;-
1-     a alma não sente prazer nas criaturas, ela se lembra continuamente de Deus, com solicitude e ansioso cuidado, pensando que não serve a ele, mas que volta atrás, por se ver sem gosto pelas coisas divinas. A alma não se preocuparia com seu estado, caso sua aridez fosse conseqüência de sua tibieza e indiferença. Na aridez purificadora, porém, predomina o desejo de servir a Deus. O espírito se fortifica, enquanto os sentidos, por falta de prazer, sentem-se fracos e sem energia. (Deus transfere os bens e forças do sentido para o espírito e, como os sentidos e a força naturais não têm capacidade para isso, ficam jejunos, secos e vazios;- porque a parte sensível não tem aptidão para o que é puro espírito). Assim, enquanto o espírito goza, a carne se entendia e enfraquece. Mas o espírito, que vai recebendo o alimento, torna-se forte, mais alerta e solícito que antes no cuidado de não falhar com Deus.
2-     2- a impossibilidade para a alma, por mais esforços que empregue nisso, de meditar e discorrer com o entendimento e com a ajuda da imaginação, como costumava fazer anteriormente, Deus aqui começa a comunicar-se, não mais por meio dos sentidos, como o fazia até então, quando a alma o encontrava pelo trabalho do raciocínio, ligando e dividindo os conhecimentos;- agora ele o faz puramente no espírito, onde não é mais possível haver discursos sucessivos. A comunicação é feita com um ato simples de contemplação, a que não chegam os sentidos interiores e exteriores da parte inferior. Por isso a imaginação e a fantasia não podem então apoiar-se em considerações alguma..- esta contemplação, de certa forma, escura e muito árida para a parte sensível do homem, é escondida e, mesmo para quem a recebe, misteriosa- via de regra, ela trás á alma inclinação e desejo de ficar a sós e em quietude, sem que pudesse ou quisesse pensar em algo determinado. Nesse descuido e repouso, sentiria logo, e delicadamente, aquela nutrição interior;- esta não delicada que não é notada...- é como o ar que, ao fecharmos a mão, se esvai. Nesse estado, Deus trata a alma de tal maneira e a leva por um caminho tão diferente que, se ela quiser operar com suas faculdades, antes dificulta que ajuda a obra que Deus nela está fazendo. A paz com que Deus deseja premiar a alma, como fruto e compensação da aridez da parte sensível, é espiritual e delicada e produz obra QUIETA- DELICADA- SOLITÁRIA- SATISFATÓRIA E PACÍFICA, muito alheia aos prazeres sensíveis e palpáveis anteriores. Assim se dá a entender que a morte do homem carnal verifica-se antes do  alvorecer  da vida nova, a qual é trazida por essa morte.
3-     Não é exagero algum chamar de crucifixão os sofrimentos das pessoas que se encontram nesse estado. Pela incapacidade de fazer uso de suas energias, parecem crucificadas. Á aridez junta-se  o medo de se suporem em caminho errado. Pensam que para elas acabou-se o bem espiritual e que Deus as abandonou. Esforçam-se por exercer as práticas anteriores, mas não conseguem qualquer resultado;- pelo contrário, isso lhes perturba a paz incutida por Deus. NADA DEVEM FAZER, A NÃO SER TER PACIÊNCIA E PERSEVERAR NA ORAÇÃO. Delas somente se exige deixar a alma livre, desembaraçada e descansada de todos os conhecimentos e pensamentos, não tendo preocupação acerca do que deverão pensar ou meditar;- e contentando-se apenas com a atenção amorosa e sossegada em Deus, sem preocupações, tentativas ou desejos de saboreá-lo ou senti-lo.
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                                               comentário
Nos momentos difíceis de nossas vidas ter préstimo pela oração;- isto Jesus exige de nós;- quem não se esforça não encontra Deus.
            Não fiquemos embaraçados, pensando e repensando se está certo ou errado. Esta atitude nos trás o medo;- e o medo derruba a nossa confiança que sempre devemos ter em Deus que na sua misericórdia nunca, nunca nos abandona.

                                                                       Edna Cavaletti.

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