Já se havendo
exercitado por algum tempo no caminho da virtude, perseverando na meditação e
na oração, nas quais com o gosto e o deleite que aí encontraram, desapegaram-se
das coisas do mundo e adquiriram algumas forças espirituais em Deus ( com as
quais ficaram um tanto refreados os desejos das criaturas e já poderão sofrer
em Deus um pouco de peso e aridez sem voltar atrás ao melhor tempo, quando se
achavam mais á vontade nesses exercícios espirituais) – é então que Deus lhes
escurece toda essa luz e lhes fecha a porta, privando-lhes do manancial da doce
água espiritual que andavam saboreando em Deus...- todas as vezes e por todo o
tempo que lhes apetecesse, deixando-os tão ás escuras que não sabem para onde
dirigir a faculdade da imaginação e o pensamento.
Todas as práticas de piedade lhe parecem agora insípidas
e enfadonhas. E não se trata aqui da conseqüência de pecados e imperfeições,
mas da aridez purificadora da noite escura, como veremos por três sinais;-
1- a alma não sente prazer nas criaturas,
ela se lembra continuamente de Deus, com solicitude e ansioso cuidado, pensando
que não serve a ele, mas que volta atrás, por se ver sem gosto pelas coisas
divinas. A alma não se preocuparia com seu estado, caso sua aridez fosse
conseqüência de sua tibieza e indiferença. Na aridez purificadora, porém,
predomina o desejo de servir a Deus. O espírito se fortifica, enquanto os
sentidos, por falta de prazer, sentem-se fracos e sem energia. (Deus transfere
os bens e forças do sentido para o espírito e, como os sentidos e a força
naturais não têm capacidade para isso, ficam jejunos, secos e vazios;- porque a
parte sensível não tem aptidão para o que é puro espírito). Assim, enquanto o
espírito goza, a carne se entendia e enfraquece. Mas o espírito, que vai
recebendo o alimento, torna-se forte, mais alerta e solícito que antes no
cuidado de não falhar com Deus.
2- 2- a impossibilidade para a alma, por
mais esforços que empregue nisso, de meditar e discorrer com o entendimento e
com a ajuda da imaginação, como costumava fazer anteriormente, Deus aqui começa
a comunicar-se, não mais por meio dos sentidos, como o fazia até então, quando
a alma o encontrava pelo trabalho do raciocínio, ligando e dividindo os
conhecimentos;- agora ele o faz puramente no espírito, onde não é mais possível
haver discursos sucessivos. A comunicação é feita com um ato simples de
contemplação, a que não chegam os sentidos interiores e exteriores da parte
inferior. Por isso a imaginação e a fantasia não podem então apoiar-se em
considerações alguma..- esta contemplação, de certa forma, escura e muito árida
para a parte sensível do homem, é escondida e, mesmo para quem a recebe,
misteriosa- via de regra, ela trás á alma inclinação e desejo de ficar a sós e
em quietude, sem que pudesse ou quisesse pensar em algo determinado. Nesse
descuido e repouso, sentiria logo, e delicadamente, aquela nutrição interior;- esta
não delicada que não é notada...- é como o ar que, ao fecharmos a mão, se
esvai. Nesse estado, Deus trata a alma de tal maneira e a leva por um caminho
tão diferente que, se ela quiser operar com suas faculdades, antes dificulta
que ajuda a obra que Deus nela está fazendo. A paz com que Deus deseja premiar
a alma, como fruto e compensação da aridez da parte sensível, é espiritual e
delicada e produz obra QUIETA- DELICADA- SOLITÁRIA- SATISFATÓRIA E PACÍFICA,
muito alheia aos prazeres sensíveis e palpáveis anteriores. Assim se dá a
entender que a morte do homem carnal verifica-se antes do alvorecer da vida nova, a qual é trazida por essa morte.
3- Não é exagero algum chamar de crucifixão
os sofrimentos das pessoas que se encontram nesse estado. Pela incapacidade de
fazer uso de suas energias, parecem crucificadas. Á aridez junta-se o medo de se suporem em caminho errado. Pensam
que para elas acabou-se o bem espiritual e que Deus as abandonou. Esforçam-se
por exercer as práticas anteriores, mas não conseguem qualquer resultado;- pelo
contrário, isso lhes perturba a paz incutida por Deus. NADA DEVEM FAZER, A NÃO
SER TER PACIÊNCIA E PERSEVERAR NA ORAÇÃO. Delas somente se exige deixar a alma
livre, desembaraçada e descansada de todos os conhecimentos e pensamentos, não
tendo preocupação acerca do que deverão pensar ou meditar;- e contentando-se
apenas com a atenção amorosa e sossegada em Deus, sem preocupações, tentativas
ou desejos de saboreá-lo ou senti-lo.
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comentário
Nos
momentos difíceis de nossas vidas ter préstimo pela oração;- isto Jesus exige
de nós;- quem não se esforça não encontra Deus.
Não fiquemos embaraçados, pensando e
repensando se está certo ou errado. Esta atitude nos trás o medo;- e o medo
derruba a nossa confiança que sempre devemos ter em Deus que na sua
misericórdia nunca, nunca nos abandona.
Edna
Cavaletti.
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